CAPÍTULO 3
Encaminhamento
profissional
Estava entusiasmado, aviões
e helicópteros desciam em grande número, como nunca tinha acontecido. “A
desgraça de uns era a alegria de outros”. A catástrofe em forma de tromba
d’água (1967) que se abatera sobre Caraguatatuba, a ponte aérea com aviões
Douglas DC3, os helicópteros de socorro da FAB,
trouxeram algo novo onde
tudo era velho, e eu, participava ativamente de todo aquele processo. Colocava
calços nos aviões, buscava cigarros para os oficiais, tirava os animais da
pista, ajudava meu pai a ligar as luzes do aeroporto, ouvia as histórias de salvamento
que os pilotos contavam, estava em todas, mas, aquela noite foi especial, noite
com sabor de vitória, jamais esquecerei aquela noite.
Eram
aproximadamente vinte e uma horas, meu pai havia saído, estava na igreja
Presbiteriana onde frequentava e ela ficava longe de casa. O avião Douglas DC3
da FAB sobrevoava Ubatuba. Era um aeroporto de emergência, as luzes de balizamento
da pista só eram ligadas com o sobrevôo insistente de um avião, dando a entender
que queria pousar. Todos já tinham percebido que era um avião com suprimentos
para Caraguatatuba, era preciso acender o balizamento, os homens de terra da
FAB não conseguiam ligar o poderoso motor MWM, e mesmo que conseguissem, jamais
conseguiriam regular a voltagem, ou ligar as luzes que exigiam o toque simultâneo
de dois interruptores, era serviço de meu pai e ele não estava presente no
momento e por incrível que pareça, eu sabia, e logo descobriram isso. Como?
Minha mãe se encarregou de dizer, pois tinha ciência que eu era à sombra de meu
pai. Fui chamado, apertei a ignição, acelerei o poderoso motor que gerava a
energia para o suprimento da pista de pouso, acompanhei a voltagem, conectei o
balizamento; as luzes acenderam como um passe de mágica, a voltagem caiu,
tornei a regulá-la com aqueles homens todos a minha volta. O avião desceu, o
comandante reclamou a demora. Contaram-lhe o episódio. Ele me tratou como um
herói, me deixou entrar no avião, me deu o lanche de bordo. Meu pai chegou
soube do ocorrido e se alegrou comigo.
Eu estava realmente num
grande dia, ou melhor, numa grande noite. Meu coração estava dominado. Aumentou
a vontade de estudar, entrar na escola de aviadores da FAB, sim, decididamente
eu seria um aviador, iria voar, tinha nascido para isso, aquele mundo me
atraia, me magnetizava em meus doze anos de idade e pouquíssima experiência,
quiçá poderia até entrar numa guerra, por incrível que pareça adoro guerra...
Algum tempo depois, um
capitão intendente veio fazer vistoria no aeroporto, Capitão Pina, nunca
esqueci o nome. Era diferente dos aviadores, era autoritário, dava ordens aos
brados. Ele me impressionou, e logo eu estava “no seu pé”, parecia uma sombra,
ficava admirando tamanha autoridade, logo ele me notou, conversamos. Em pouco
tempo eu já estava contando-lhe meus sonhos, minhas intenções, porém, eu tinha
miopia, já estava usando óculos, e aí veio a triste verdade. “Você não pode ser
aviador, você é míope”. Ele percebeu que eu tinha sido atingido em cheio,
porque tentou me convencer que eu poderia vir a ser um oficial intendente, como
ele, e, que assim era melhor. Era tarde, aquele dia já estava marcado, iria
alterar o rumo de minha vida, do meu futuro. Pode-se dizer com certeza, que do
ponto de vista profissional aquele havia sido o pior dia de minha vida.
Fiz o primário, ginásio,
colegial, e quem disse que eu sabia o que fazer ou que estudar; ou onde
trabalhar, afinal, meu sonho, meu objetivo de vida não existia mais. “Sobre
livre e espontânea pressão da família” acabei indo para São Paulo, fiz exames
de adaptação para o magistério e terminei o curso no Colégio São Judas Tadeu.
Foi um ano inesquecível, pois foi o marco de uma carreira, que já dura cerca de
trinta e três anos em sala de aula. “Cai de paraquedas no curso e na
profissão”, acabei gostando me tornei professor.
Assim como o curso de
magistério que fiz sem ter um rumo definido, comecei a trabalhar em uma sala de
aula em Caraguatatuba (SP), fui “premiado” por trabalhar com professoras
excelentes, que ajudaram muito em meu inicio de carreira. Não sabia nada,
“magistério jamais deixou alguém preparado para a prática de uma sala de aula,
pedagogia menos ainda”, constatei isso assim que assumi uma classe, e só me
restavam duas alternativas, sair derrotado e nunca mais voltar, ou pedir ajuda
para minhas colegas de trabalho, escolhi a segunda opção e fiquei até o fim.
Jamais poderia imaginar que
um dia seria professor e que gostaria de estar em uma sala de aula, mas o fato
é que estou encerrando minha carreira e devo aposentar neste ano. O que
impressiona é a trajetória de minha vida, pois essas coisas cada dia me
distanciavam mais de Deus e da promessa que meu pai havia estabelecido desde o
principio da minha vida. Como, pois poderia alguém cogitar que toda essa
situação poderia ser revertida? Hoje, graduado em Magistério Superior pela
UNESP no PEC for PROF e ungido Pastor da Igreja Assembleia de Deus, vejo como o
Todo Poderoso traçou um plano especial para todos os meus dias. Estudei, estruturei
uma família, tenho corrigido erros do passado à medida que eles surgem, prego o
evangelho da salvação a todas as almas que necessitam e posso me considerar um
homem bem sucedido. Se tivesse que encerrar hoje mesmo minha carreira, já poderia
tomar para mim as palavras do apóstolo Paulo, onde ele deixou escrito: “Combati
o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça
me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não
somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda”, (II Tm 4. 7, 8).
A verdade é, que assim como
em um jogo de futebol tudo acaba com o apito do juiz (e muita coisa pode
acontecer antes que o juiz apite o fim do jogo), no grande jogo da vida, o
apito final pertence ao criador e muita coisa pode acontecer antes que Ele
encerre a partida de nossas vidas.
É verdade também, que
enquanto houver pais comprometidos com seus filhos em oração, alguma coisa sempre
estará acontecendo no mundo espiritual em cumprimento a palavra que está
escrita: “E sabemos que todas as
coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados
segundo o seu propósito” (Rm
8.28). O comprometimento de meu pai com Deus, as orações feitas no dia a dia, a
entrega que ele fez no passado, são uma somatória de fatos e atos que movimentaram
a mão de Deus para agraciar e abençoar o alvo de tanta atenção, nesse caso, eu.
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