quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

BREVE REFLEXÃO SOBRE O DÍZIMO
A primeira menção sobre dízimo nas escrituras acontece em Gênesis 14 quando Abraão volta da matança dos reis e dá o dízimo de todo o despojo recuperado na batalha que se envolveu para salvar seu sobrinho Ló, juntamente com sua família. E o rei de Sodoma saiu-lhe ao encontro (depois que voltou de ferir a Quedorlaomer e aos reis que estavam com ele) até ao Vale de Savé, que é o vale do rei. E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e era este sacerdote do Deus Altíssimo. E abençoou-o, e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra; E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo. E o rei de Sodoma disse a Abrão: Dá-me a mim as pessoas, e os bens toma para ti. Abrão, porém, disse ao rei de Sodoma: Levantei minha mão ao Senhor, o Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra, Jurando que desde um fio até à correia de um sapato, não tomarei coisa alguma de tudo o que é teu; para que não digas: Eu enriqueci a Abrão; Salvo tão-somente o que os jovens comeram, e a parte que toca aos homens que comigo foram, Aner, Escol e Manre; estes que tomem a sua parte. Gênesis 14:17-24.
É necessário ler quase todo o capítulo para perceber certos detalhes como:
1. Abraão recusa ficar com os despojos que lhe é oferecido porque não aceita a ideia que seu enriquecimento seja atribuído à outra fonte que não o Senhor.
2. Mesmo recusando sua parte, retira o dízimo e oferta ao Senhor entregando a oferenda ao sacerdote Melquisedeque, dando a entender com essa atitude que praticava esse tipo de oferta em seu cotidiano de vida.
3. Em nenhum momento há uma exigência divina com referência a dízimo, portanto, pode-se concluir que: contribuir com dízimo era uma proposta de Abraão e não de Deus e que o fazia por agradecimento a bênçãos recebidas afinal já estava bem de vida a ponto de recusar os riquíssimos despojos da batalha.
4. Além do dízimo pede a parte de seus confederados que participaram da batalha Aner, Escol e Manre, pois reconhecia o direito dos amigos e confederados a parte do prêmio.
5. Dízimo não "pertence" a lei como muitos afirmam. Com certeza é anterior a lei e nesse caso é dado por fé.
Com isso podemos concluir que dar Dízimo não foi ideia divina, mas sim, humana. Não partiu de Deus, mas sim de Abraão. Podemos entender também que foi um ato de fé e agradecimento de um homem que foi reconhecido como o pai da fé, do qual somos filhos por fé. Portanto, é pela fé, para que seja segundo a graça, a fim de que a promessa seja firme a toda a posteridade, não somente à que é da lei, mas também à que é da fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós, Romanos 4:16.

A segunda menção sobre dízimo encontramos em Gênesis 28, quando Jacó, após ter o sonho da escada que tocava os céus, faz um acordo com Deus comprometendo-se a dar o dízimo de tudo desde que Deus lhe suprisse em suas necessidades e lhe levasse e trouxesse de volta em paz. E Jacó fez um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer, e vestes para vestir; E eu em paz tornar à casa de meu pai, o Senhor me será por Deus; E esta pedra que tenho posto por coluna será casa de Deus; e de tudo quanto me deres, certamente te darei o dízimo. Gênesis 28:20-22.

Será necessário ler grande parte das escrituras (por isso não copiarei aqui) para verificar que:
1. Deus cumpriu integralmente sua parte no acordo levando-o e trazendo de volta em paz, lhe suprindo de tudo, lhe dando uma família numerosa, mudando seu nome para Israel e acrescentando a salvação que é mais importante. E chamou Jacó o nome daquele lugar Peniel, porque dizia: Tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva. Gênesis 32:30.
2. Uma vez cumprido sua parte do acordo Deus então se viu no direito de cobrar de Jacó e seus descendentes sua parte no voto, ou seja, o dízimo do dinheiro e dos filhos (porque estavam inclusos no acordo).
3. 10% dos filhos inclui a tribo de Levi inteirinha mais 0,2% de elementos de outras tribos, escolhidos por Deus através da história de Israel e o dízimo de toda a produção em bens e dinheiro de toda a nação em todos os tempos (porque o voto não tem limite de tempo). Esses bens e dinheiro seriam administrados pela tribo de Levi que agora estaria a seu serviço.
4. Uma vez que era um acordo e a parte divina foi cumprida, foi inserida em lei, o cumprimento do acordo por toda a nação, que descendesse de Jacó/Israel ou qualquer estrangeiro que se agregasse voluntariamente a nação e cumprisse as exigências da lei.
Podemos entender a partir desse acordo que a proposta (mais uma vez) não veio de Deus, mas sim do homem, Jacó depois chamado Israel, e, que foi inserido na lei e exigido seu cumprimento apenas para seus descendentes, portanto o aparecimento da palavra dízimo proliferou em todo o velho testamento disciplinando a coleta e sua aplicação entre as tribos hebraicas por milênios. Concluímos então que a partir de Abraão e Jacó/Israel aparecem dois tipos de contribuição denominada Dízimo, uma ofertada por fé e agradecimento e outra por lei, baseada em um acordo feito entre Israel e Deus. Considerando que não pertencemos ao povo de Israel a contribuição imposta não nos interessa. O que nos interessa é a contribuição do dízimo pela fé porque Abraão é pai da fé e nós filhos de Abraão. Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão. Gálatas3:7.

Por fim vemos em Hebreus que Jesus é sacerdote eterno pela ordem de Melquesedeque e que assim como nosso pai Abraão deu dízimos a Melquesedeque podemos ofertar dízimos pela fé e agradecimento a Jesus Cristo para ser administrado por ele através de seus representantes na terra, ou seja, sua igreja. Porque este Melquisedeque, que era rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, e que saiu ao encontro de Abraão quando ele regressava da matança dos reis, e o abençoou; A quem também Abraão deu o dízimo de tudo, e primeiramente é, por interpretação, rei de justiça, e depois também rei de Salém, que é rei de paz; Sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida, mas sendo feito semelhante ao Filho de Deus, permanece sacerdote para sempre. Considerai, pois, quão grande era este, a quem até o patriarca Abraão deu os dízimos dos despojos. E os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a lei, de tomar o dízimo do povo, isto é, de seus irmãos, ainda que tenham saído dos lombos de Abraão. Mas aquele, cuja genealogia não é contada entre eles, tomou dízimos de Abraão, e abençoou o que tinha as promessas. Ora, sem contradição alguma, o menor é abençoado pelo maior. E aqui certamente tomam dízimos homens que morrem; ali, porém, aquele de quem se testifica que vive. Hebreus 7:1-8.
Cabe lembrar também que a igreja primitiva teve autonomia para receber outros tipos de ofertas voluntárias como:
1. 100% de tudo. Não dez por cento, mas sim tudo o que tinham. É lógico que nesse caso é impossível a prática do dízimo pois nem sobra nada para dizimar: Não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos. E repartia-se a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha. Então José, cognominado pelos apóstolos Barnabé (que, traduzido, é Filho da consolação), levita, natural de Chipre, Possuindo uma herdade, vendeu-a, e trouxe o preço, e o depositou aos pés dos apóstolos. Atos 4:34-37.
2. Oferta alçada para emergências:
E, levantando-se um deles, por nome Ágabo, dava a entender pelo Espírito, que haveria uma grande fome em todo o mundo, e isso aconteceu no tempo de Cláudio César. E os discípulos determinaram mandar, cada um conforme o que pudesse, socorro aos irmãos que habitavam na Judéia. Atos 11:28,29.
Porque pareceu bem à macedônia e à Acaia fazerem uma coleta para os pobres dentre os santos que estão em Jerusalém. Romanos 15:26.
Podemos verificar biblicamente na igreja do novo testamento a legitimidade do uso das antigas ofertas voluntárias, do dízimo, de ofertas alçadas para emergências e até ofertas de 100% de tudo que o ofertante tinha, portanto, qualquer dessas ofertas podem ser praticadas hoje sem conflitos com textos bíblicos. A questão que fica é a seguinte: a igreja pode transformar a prática do dízimo em regra? Sim ou não? Sim. A partir da convenção feita na igreja sede em Jerusalém em uma parceria entre o Espírito Santo e a Igreja Primitiva para resolver a questão da circuncisão (ou não) para os gentios, registrada no livro de Atos onde se estabelecem novas regras e determinações para a igreja de Antioquia e demais igrejas, podemos inferir, que existe a possibilidade da igreja em convenções e/ou assembleias estabelecer regras que não entrem em desacordo com a bíblia, portanto é legitimo a igreja se reunir e de comum acordo estabelecer o uso desse tipo de oferta dentro dos parâmetros bíblicos. Enviamos, portanto, Judas e Silas, os quais por palavra vos anunciarão também as mesmas coisas. Na verdade pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias: Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da fornicação, das quais coisas bem fazeis se vos guardardes. Bem vos vá. Tendo eles então se despedido, partiram para Antioquia e, ajuntando a multidão, entregaram a carta. Atos 15:27-30.
O que não podemos legitimar é a pressão psicológica para ofertar, o toma-la-dá-cá, a troca com Deus como se fora uma aplicação, a baixaria de intitular crentes como ladrões (porque não estamos debaixo do voto de Jacó) ou até mesmo a violência de dizer que não dizimar implica na salvação eterna, porque dinheiro nenhum pode impedir o poder do sangue de Jesus derramado na cruz do Calvário de nos proporcionar salvação eterna. E respondeu-me, dizendo: Esta é a palavra do Senhor a Zorobabel, dizendo: Não por força nem por violência, mas sim pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos. Zacarias4:6. Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, ou por necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria. 2 Coríntios 9:7. Também não podemos legitimar a avareza, ou seja, não contribuir de forma nenhuma, não investir, não dar frutos por que Deus é contrário a essa ideia... E disse-lhes: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui.Lucas 12:15. Mas a fornicação, e toda a impureza ou avareza, nem ainda se nomeie entre vós, como convém a santos; Efésios 5:3.

Por fim entendo que, baseado nesta reflexão igrejas que não convencionaram o uso do dízimo não devem ser questionadas e igrejas que convencionaram a utilização desse tipo de oferta também não devem ser questionadas, até porque seria recalcitrar contra os aguilhões e lutar uma batalha perdida no nascedouro, pois se Deus permite quem somos nós para reprovar. Outrossim não vivo do dinheiro da igreja pois sou aposentado da rede pública estadual de ensino e tenho por hábito contribuir com ofertas voluntárias cotidianas, com dízimos por fé e gratidão a Deus e ofertas alçadas para emergências, porque quando não crente gastava 90% de tudo que tinha na súcia, na gandaia, na boêmia, nas baladas e aproveitava 10%. Hoje se eu der 10%, 20%, 30% até 90%, para a obra de Deus, ainda estou no lucro pois com a benção de Deus tenho uma família abençoada e bens para viver em paz, além do que o dinheiro é meu e faço o que quiser com ele (risos). Joao Xavier... Pastor da Assembleia de Deus e Professor Aposentado.

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