CAPÍTULO 10
EXPULSÃO DOS DEMÔNIOS
- Minha filha. Não saia por
aí namorando qualquer um. O mundo da iniqüidade e do pecado é como um lixão
espiritual, nunca faça como um mendigo, ciscando o lixo em busca de alguma
coisa boa, porque não vai achar. Espere no Senhor. Ele vai preparar a pessoa
certa para você. Peça a Ele que Ele vai atender seu pedido.
Sua mãe lhe orientara assim
e durante anos ela seguira os conselhos dela, agora Deus lhe apresentava uma
novidade que marcou sua vida para sempre. Um jovem rolou endemoninhado na
igreja e ela pode ouvir a voz do Espírito de Deus falando suavemente:
- Esse é seu futuro esposo,
o homem que eu escolhi para você.
- Jesus! – ela exclamou
assustada. Esse... Endemoninhado?...
Era assustador, era algo
totalmente inesperado, era inusitado, Deus é rico em surpresas e mistérios. Apresentar
um futuro noivo naquelas condições, sem que uma das partes tivesse ciência
desse fato é algo realmente impressionante.
- Eu lhe pedi um homem de
Deus, um pregador do evangelho, uma pessoa que eu pudesse viver junto, viajar
junto, pregar junto... E o Senhor me manda um endemoninhado, eu estou
confusa...
Ela creu, estava meio
aturdida, mas creu, sabia que um dia Deus lhe concederia essa dádiva, segundo
sua promessa. O outro lado, o futuro cônjuge, no caso eu, não sabia de nada a
princípio, mas o importante é que ganhei uma amiga desde o início de minha
entrada na igreja e na fé, amiga essa que no futuro se tornaria minha esposa. Essa
amiga seria um bálsamo, uma ajuda em uma carreira cristã que começava de forma
bastante tumultuada. Seria uma ajuda importante na luta contra demônios, pois
em pouco tempo poucos acreditariam em minha sanidade mental. Ela seria algo
como um Simão Cirineu me ajudando a carregar minha cruz.
Quando passamos por
momentos extremamente difíceis, refletimos muito, e a história da nossa vida
desfila diante de nossos olhos, com lembranças de uma sucessão de fatos, que
culminariam em diversas possibilidades diferentes, se as atitudes tomadas no
passado fossem direcionadas para outro caminho. Minha postura tinha me encaminhado
para uma situação, que estava fora de controle e eu sabia que era culpado.
Havia enveredado pelas
noites buscando os prazeres da carne. Conheci a vida noturna e todos os
prazeres, que as cidades litorâneas nos proporcionam. Conheci bares, boates,
prostíbulos, restaurantes dançantes, pagodes de beira de praia. Tive experiências
com mulheres, álcool, drogas, amigos, inimigos, brigas, garrafadas, tiros, etc.
Todas essas coisas faziam parte de meu mundo e por incrível que possa parecer
eu gostava de tudo aquilo. Gostava da vida noturna do litoral, da Capital, do
interior, do Sul de Minas e a cada passo que dava em direção da noite, novas
experiências apareciam, me mantendo ligado a esta vida libertina e só com o
decorrer dos anos é que fui percebendo que essa sucessão de novidades, que somente
satisfaziam os desejos e concupiscências da carne, me mantinha cativo a uma
situação, que não me satisfazia integralmente, porém me impedia de buscar algo
mais substancial para a alma, e a sensação de vazio interior, havia me levado a
soluções extremas, na busca de preencher o vazio.
Em meio a tudo isso,
procurei a figura divina, porém com um pouco de incredulidade e outro tanto de
soberba, fui longe demais e tinha criado uma situação que escapava totalmente
ao meu controle, uma situação que me obrigava a me prostrar, humilhar, clamar
misericórdia e pedir a graça e os favores divinos, que nos alcança através do
sacrifício de Cristo no Calvário. Esse era meu momento crítico, mas por outro
lado era o momento culminante, de minha aproximação e meu encontro com Deus.
Agora eu estava pronto. Pronto para me humilhar, me reconhecer um pecador
necessitado de socorro, perdão e salvação.
“Porque está escrito: Por
minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua
louvará a Deus” (Rm 14.11). Estava na hora de se cumprir em minha vida, esse
versículo das escrituras. Nesse momento de agonia e tribulação, percebi
claramente que tudo deveria começar pela humilhação e em meu lugar secreto prostrei-me
diante d’Aquele que poderia libertar minha alma e me prover da salvação eterna
e orei, confessei meus pecados, transgressões e iniqüidades e tudo o que pude
lembrar naquele momento de coisas desagradáveis a Deus. Com o rosto no pó eu
orei, confessei, pedi misericórdia e socorro, tudo baseado nas informações que
havia adquirido lendo as escrituras. Orava com uma intensidade tal, como nunca
havia acontecido e no fim da oração proferi as seguintes palavras:
- Senhor, tua palavra diz
que tu és um Deus de misericórdia, bondade e benignidade, e agora eu creio, portanto,
quando aquele demônio vier sobre mim para me possuir, vou recusar sua entrada e
expulsá-lo em nome de Jesus Cristo, seu filho. Se o Senhor impedir a possessão
maligna, repreender, e expulsar o espírito imundo, saberei, que fui perdoado e
que o Senhor ouviu e atendeu minha oração, então entregarei minha vida para ti
definitivamente e cumprirei minha parte de nosso trato.
Estava feito, consumado,
oficializado. A bíblia diz que “... se com a tua boca confessares a Jesus como
Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será
salvo; pois é com o coração que se crê para a justiça, e com a boca se faz
confissão para a salvação” (Rm 10.9,10). Eu havia executado mais um dos versículos
que havia aprendido, só faltava verificar na prática se eu era um salvo, que
deixara de pertencer ao reino das trevas e das possessões das entidades
malignas, para ser propriedade de Jesus Cristo comprado por um preço de sangue.
A bíblia afirma que nascemos criatura de Deus e que só Jesus pode nos
transformar em filhos[1],
que recebemos o Espírito do pai que clama dentro de nós, pois agora eu saberia
realmente se tudo aquilo seria consumado em minha vida.
O espírito imundo me
possuía normalmente de baixo para cima. Pode ser que não seja um padrão, mas comigo
era assim. Sentia um formigamento que subia progressivamente pelos membros
inferiores, abdome, tronco, membros superiores, pescoço, cabeça. À medida que o
formigamento subia, perdia o controle daquela parte do corpo, até que toda a
minha consciência fosse tomada e apagada, de forma que eu não conseguia me
lembrar de tudo o que a entidade havia feito nesse ínterim. Era usado, possuído,
dominado.
Mais uma vez a história
iria se repetir, só que desta vez teria um final diferente. Era uma tarde e
estava em minha casa, quando senti a presença maligna, não podia vê-lo, mas
sentia sua presença e muito mais comecei a sentir o formigamento sintomático de
que mais uma possessão estava por acontecer. Fui sentindo o formigamento subir
e fui perdendo o controle das pernas, abdome, tronco, braços... E antes de tudo
se consumar decretei:
- Espírito imundo, em nome
de Jesus, SAAAAAAIIIIIIIIII!!!!!!!
Foi um grito, uma
imposição, uma ordem de despejo, “um cartão vermelho”, o primeiro de muitos,
porque na vida cristã, volta e meia precisamos repetir essa ordem. Somos um
templo, uma casa, um santuário preparado para morada do Espírito Santo. Em
algum momento, em algum desses templos um espírito imundo “sem teto”, vem habitar
a revelia do proprietário e somente pelo poder do Senhor nosso Deus, podemos
decretar uma ordem de despejo que altere essa situação.
Ele reagiu, meu corpo
pulava, algo estranho estava acontecendo, eu podia sentir sua fúria, mas também
pude ver, uma mão enorme, gigantesca, descendo, vindo sobre minha casa, sobre
nós, passando através da matéria, do telhado, das paredes, do meu corpo. Nada
era sólido para aquela gigantesca mão, exceto o demônio. Foi uma pancada. Ele
deu um berro e foi arrancado violentamente. Literalmente “arrancado”. Saiu à
força. Foi uma coisa impressionante, coisa tremenda, inesquecível. Eu estava livre[2].
Fui aceito, na prática estava acontecendo, o que havia sido escrito. Estava
sendo liberto. Ele pagou meu preço agora estava dando meu resgate. Agora eu
estava livre, mudei de lado, deixei de pertencer ao Diabo (ainda que nem tivesse
consciência disso), passei a pertencer a Jesus Cristo. Ele me salvou, tomou
minhas dores, lutou minha luta, fez o milagre, me libertou.
Estava muito contente. Meu
contentamento explodiu pela casa. Agora eu não somente conhecia o poder das
trevas, conhecia também o poder da luz. Agora tinha minha grande e marcante experiência
com Cristo, agora eu era servo de Jesus Cristo, eu era um salvo. Não tinha
idéia ainda do que era nascer de novo, ter o Espírito de Deus habitando em mim,
morrer para o mundo da iniqüidade e do pecado e ressuscitar para Deus, mas com
certeza comecei sentir essa alegria a partir daquele momento, pois algo novo e
celestial invadia meu ser. Era uma experiência nova e incrível.
[1]
Mas, a todos quantos o receberam,
deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome. Jo
1. 12.
[2]
Baseado nas escrituras e em minha experiência pessoal afirmo que um demônio é
expelido pelo poder de Deus de forma única e definitiva, portanto episódios
representativos em que demônios saem e voltam em uma sucessão de vai e vem
indefinido é pura fantasia ou puro show. Segundo Jesus, se um demônio sair e
algum tempo depois voltar e encontrar a casa vazia a situação do possesso
ficará oito vezes pior que antes, isso sim pode acontecer.
E, quando o espírito imundo tem
saído do homem, anda por lugares áridos, buscando repouso, e não o encontra.
Então diz: Voltarei para a minha casa, de onde saí. E, voltando, acha-a desocupada,
varrida e adornada. Então vai, e leva consigo outros sete espíritos piores do
que ele e, entrando, habitam ali; e são os últimos atos desse homem piores do
que os primeiros. Assim acontecerá também a esta geração má. Mt 12. 43 – 45.
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