CAPITULO 9
PROVANDO DEUS[1]
- Deus! Estou aqui por
causa daquele “papo estranho” que tivemos na casa da minha irmã, lembra..., Naturalmente
fazia interrupções para observar se não estava chamando a atenção de alguém
dentro daquela igreja enorme e prosseguia.
- Deus aquela “coisa”, quer
dizer aquela conversa me “baratinou” sabe... Olha Deus, o Senhor falou para fazer
uma prova, então pensei e decidi...
Era estranho falar com uma
pessoa que não podia ver, mas estava decidido a continuar e não voltar atrás,
mesmo porque eu tinha minhas dúvidas, que Deus atenderia minha proposta, porém
isso satisfaria meu ego, pois eu poderia dizer a mim mesmo “você tentou”. É
verdade que conhecer um Deus que pode se dar ao luxo de conversar com um ser
humano simplesmente respondendo ao seu pensar é um atrativo fora de série, mas
daí a crer que aquela prova absurda poderia trazer resultados práticos era
outra conversa.
- ... Que venho na igreja
por três meses todas as semanas, “se for pouco tempo eu posso vir esporadicamente
por mais três meses” – brinquei. Depois do culto volto para minha vidinha
noturna e...
Estava me ambientando
gradativamente e já conseguia disfarçadamente falar com mais facilidade.
-...Deus, se o Senhor me
converter durante esses três meses “a força[2]”,
pois eu sei que é do seu interesse salvar minha alma. Se o Senhor me
transformar em um crente de verdade, sem minha ajuda, passarei a acreditar no
Senhor. Largo tudo o que faço e vou te servir, topo qualquer “parada”, faço o
que o Senhor quiser, serei sua testemunha, levarei seu evangelho onde quiser.
É lógico que gaguejava de
vez em quando, vigiava, parava com movimento das pessoas e aos “trancos e barrancos”,
estava conseguindo me explicar. Confesso que me sentia meio ridículo,
sussurrando sozinho no meio do povo, mas os hinos, o burburinho da igreja
louvando a Deus me facilitava um pouco.
- Jesus, quero deixar claro
que vou estar com a grana, o cigarro e “tudo o mais”, preparado para sair e entrar
na noite, ok! Isto é venho na igreja, cumpro minha parte do trato e desapareço,
certo?!
Era uma igreja comprida,
tinha muita gente e muita luz. Acostumado com ambientes noturnos e com pouca
luz me sentia estranho, incomodado, inquieto, fiquei pouco à vontade e procurei
sentar em um dos últimos bancos, para não chamar a atenção. Precisava fazer a
proposta para Deus, mas estava encontrando dificuldades para falar com Ele, em
meio aquela situação, por isso abaixei a cabeça, os olhos vigiando, coloquei a
mão sobre a boca e me comuniquei em sussurros.
É comum alguém fazer um
voto a Deus, comprometendo alguma área de sua vida, mas eu de uma vez por todas
fiz um voto de compromisso total, em todas as áreas de minha vida, mesmo sem
ter consciência das dificuldades em cumprir tal voto. E por incrível que possa
parecer não estava brincando, minha proposta era absurda, porém séria porque se
realmente existisse um Deus capaz de fazer tal proeza, eu precisava conhecê-lo
e com certeza iria servi-lo durante toda a minha vida.
Estávamos conversados,
encerrei por aí e fui embora pensando na vida.
Nasci
em Ubatuba, litoral norte de São Paulo, vivi durante minha infância e
adolescência no aeroporto onde meu pai trabalhava e contava com um espaço enorme
e muita facilidade para manter um contato muito estreito com a natureza, que me
dava sensação de liberdade. Tive problemas de adaptação na escola justamente
por essa causa. Lá eu me sentia como um animal engaiolado e passei a agir com
extrema agressividade. A escola levou algum tempo para me domar e entendo que
me foi tremendamente benéfica, pois a partir daí eu passei a dominar o código
da escrita, ampliar meus conhecimentos e a exercer maior independência em minha vida. Deixei de freqüentar a
escola dominical e posteriormente os cultos da igreja presbiteriana
independente de Ubatuba, onde meu pai era oficial de igreja (Presbítero), entre
nove a dez anos, quando entrei em um time de futebol dente de leite e fiquei
deslumbrado com as inúmeras atrações que este mundo oferece. Passei a conhecer
garotas, namorar e freqüentar bailes e boates aos quatorze ou quinze anos de
idade porque a vida no litoral facilita muito o envolvimento com a busca do
prazer e a satisfação carnal. Uma desilusão amorosa aos dezoito anos me precipitou
mais ainda na noite, na boêmia e na farra. Agora com vinte e seis anos após
conhecer a vida e os prazeres da carne de forma bastante precoce, me dirigi a
uma igreja evangélica de minha cidade natal para fazer uma proposta a um Deus,
que jamais havia conhecido de forma direta e pessoal. Dois sentimentos se
digladiavam em meu ser, por um lado queria continuar minha vidinha de busca do
prazer, por outro queria conhecer aquele Deus que conversa com a gente lendo
pensamentos, por isso me sentia meio confuso com aquela situação.
O verão se fora. Voltei
para Caraguatatuba onde moro; para meu trabalho cotidiano e passei a freqüentar
a igreja de minha cidade para continuar cumprindo minha parte do trato e exceto
alguns problemas de saúde, nada havia acontecido de novo. A falta de algum
elemento novo nessa questão me desestimulava e por vezes tinha dificuldade em
continuar a freqüentar os cultos semanais, que havia me comprometido fazer e a
saúde piorava. Algum tempo depois após ter consultado vários médicos, pois tinha
dores de cabeça constantes e não haver obtido um resultado positivo, resolvi
fazer uma bateria de exames no hospital dos servidores em São Paulo. Resultado:
nada. Não tinha nada, por incrível que pareça eu tinha sintomas, mas não tinha
doença. Irritadíssimo, discuti com os médicos e fui convencido a dar um tempo e
voltar para fazer outros exames em outra oportunidade, mas a partir da volta
para casa comecei a imaginar uma possível ligação, entre a prova com Deus e
minha estranha doença. Fiquei bronqueado, resolvi resistir, agora por teimosia,
decidi não ceder dentro de três meses, em hipótese nenhuma, agora só arrastado
ou se algo fora do previsível acontecesse. E aconteceu.
Quando faltava pouco tempo
para encerrar os três meses cai miseravelmente endemoninhado no meio da igreja.
Um espírito imundo se manifestou em meu corpo e em minha vida. Não poderia
imaginar na época que conheceria Deus da forma mais difícil, pois antes de
chegar até Ele seria entregue na mão de demônios. Não podia conceber nessa
época, que Deus jamais converte alguém por força ou violência, basta que ele
retire a proteção de sua mão ou de seus anjos, como estava acontecendo comigo e
tudo desmorona, como uma terrível avalanche de lutas e tribulações insuportáveis.
A princípio o demônio tentou se passar pelo Espírito Santo, durante esse
período me ensinou muita coisa da Bíblia e até mesmo do céu, é lógico sempre
distorcendo a parte em que o Cristo veio em carne para salvar. Em um segundo
estágio passou a dominar meu corpo sem meu conhecimento e a fazer barbaridades
na igreja e em minha casa.
Certa noite ele usou meu
corpo durante boa parte da madrugada, batia em meu peito e dizia:
- Este é meu. Este vou
levar comigo... – falava com minha família.
Quando acordei para
trabalhar no dia seguinte estava exausto, pois meu corpo havia servido de
cavalo ao demônio durante a noite inteira.
A partir desses episódios e
do relato de meus familiares, me conscientizei que estava sendo possuído por um
espírito das trevas. Uma entidade que jamais achei possível existir, mas que estava
conhecendo da maneira mais dura possível. Certa feita eu estava possuído pelo
demônio em minha casa e mandaram chamar o pastor da igreja evangélica
Assembléia de Deus. Pobre pastor, não estava preparado, por isso o espírito demoníaco
zombava dele.
A partir daí minha vida
ruiu. Demônios, cansaço, medo, possessão, problemas de saúde, nervosismo, incerteza.
Todas essas coisas desabaram sobre minha cabeça e minha vida num repente. O
demônio que me possuía, resistia a todo e qualquer tipo de expulsão e pela
primeira vez me senti sozinho e perdido, minha situação estava se tornando
desesperadora, nesse momento eu estava precisando mesmo era de um salvador.
Talvez você já tenha visto
um endemoninhado se debatendo em algum lugar ou alguma igreja. É comum quando
isso acontece, que alguns corram, outros enfrentam as entidades no nome de Jesus,
outros aguçados pela curiosidade assistem de longe. E possível até que alguns
nem acreditem ou até mesmo zombem de toda a situação, mas o que ninguém pode
imaginar é como se sente o pobre coitado que esta ali rolando pelo chão
miseravelmente possuído por espíritos ou entidades, as quais você não pode e
não consegue controlar. Entidades essas que não dormem, não se cansam, te
odeiam e tem a intenção de roubar matar e destruir. Seres espirituais que
durante milênios se aprimoraram, desenvolveram e aperfeiçoaram seus critérios
de malignidade, sem entranhas, sem misericórdias, frios e desprezíveis.
Se por alguns minutos os
servos de Deus imaginassem a situação de um homem possesso por demônios, com
certeza se dedicariam mais e mais a se consagrar diante do Senhor Deus Todo
Poderoso, buscando a libertação dessas vidas possuídas e oprimidas por hostes
da maldade nos lugares celestiais. No meu caso, é bem verdade, eu havia pedido
por tudo e só estava colhendo o que havia plantado, mas o que Deus quer
realmente são homens mulheres e crianças cheias do Espírito Santo, para
enfrentarem situações com pessoas endemoninhadas e através do grande e
respeitado nome de Jesus Cristo, trazer libertação e possibilitar ao possesso,
sair de uma situação que pode conduzi-lo a morte e ao inferno.
Eu havia feito uma prova
com Deus e da maneira mais dura possível, para minha capacidade de suportar sofrimentos
e experiências aterrorizantes, estava sendo conscientizado que os demônios eram
reais, que existia o império das trevas com suas hostes, principados e potestades.
Antes mesmo de mostrar sua existência de forma explícita, o Senhor Deus estava
mostrando o lado oposto, para que a partir daí iniciasse a busca da experiência
necessária ao conhecimento da luz. Sabendo então que o mal existia segundo o
relato das escrituras sagradas e que ele estava ali me oprimindo através
daquela entidade, então existia também o bem, pois a verdade está inserida na
mesma escritura, e, para mim só existia uma possibilidade, correr para o outro
lado, correr do mal para o bem, das trevas para a luz, correr da morte para a
vida, correr do Diabo para Jesus. Mas como fazer isso, como chegar até um Deus
que eu praticamente não conhecia, como se chegar a um Deus que é espírito,
como? Eu sabia que a resposta estava nas escrituras sagradas, sim desde criança
eu sabia que naquele livro estavam todas as respostas, por isso foi por ali que
eu comecei.
Quando Deus o todo Poderoso
colocou em meu coração que ali estava à saída das trevas e a entrada da luz
comecei a ler, estudar, comer, devorar a palavra de Deus. Descobri que vários
profetas haviam comido o rolo do livro como eu estava fazendo, eu não era o
primeiro e com certeza não serei o último e passei a ter uma maior aproximação
Dele. A partir daí tomei contato com versículos tais como: “Sujeitai-vos, pois,
a Deus; mas resisti ao Diabo, e ele fugirá de vós. Chegai-vos para Deus, e ele
se chegará a vós. Limpai as mãos, pecadores; e, vós de espírito vacilante,
purificai os corações” (Tg 4.7,8). “Dai graças ao Senhor, porque ele é bom;
porque a sua benignidade dura para sempre; digam-no os remidos do Senhor, os
quais ele remiu da mão do inimigo” (Sl 107.1,2). “Provai, e vede que o Senhor é
bom; bem-aventurado o homem que nele se refugia” (Sl 34.8). Esses versículos e
outros mostraram a mim o caminho, o escape e a saída do atoleiro espiritual em
que havia me metido. Aliás, a Bíblia sagrada é a solução de todos os problemas,
ela é a representação escrita de Cristo, é o espelho que nos mostra Deus, é a
verdade que liberta, foi naquele momento minha tábua de salvação e passou a ser
a partir daí meu manual de vida. Posso assegurar que se alguém começar a
estudar as escrituras e descobrir porque ela é chamada de “o livro dos livros”,
com certeza terá encontrado Deus e estará com a alma liberta e vivendo na paz
do Senhor que excede todo o entendimento humano.
[1]
Provai, e vede que o SENHOR é bom; bem-aventurado o homem que nele confia. SL
34.8.
[2]
Com certeza Deus não converte ninguém por força ou violência, porém eu não
tinha consciência disso no início de minha vida cristã. Entendo que na narração
dos fatos a seguir o Todo-Poderoso somente retirou sua proteção de sobre mim
por ser filho de crente e sofri todas as repercussões de minha proposta, por
alguns considerada absurda.
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