terça-feira, 22 de maio de 2012

TESTEMUNHO - CAPÍTULO 9


CAPITULO 9

PROVANDO DEUS[1]

- Deus! Estou aqui por causa daquele “papo estranho” que tivemos na casa da minha irmã, lembra..., Naturalmente fazia interrupções para observar se não estava chamando a atenção de alguém dentro daquela igreja enorme e prosseguia.

- Deus aquela “coisa”, quer dizer aquela conversa me “baratinou” sabe... Olha Deus, o Senhor falou para fazer uma prova, então pensei e decidi...

Era estranho falar com uma pessoa que não podia ver, mas estava decidido a continuar e não voltar atrás, mesmo porque eu tinha minhas dúvidas, que Deus atenderia minha proposta, porém isso satisfaria meu ego, pois eu poderia dizer a mim mesmo “você tentou”. É verdade que conhecer um Deus que pode se dar ao luxo de conversar com um ser humano simplesmente respondendo ao seu pensar é um atrativo fora de série, mas daí a crer que aquela prova absurda poderia trazer resultados práticos era outra conversa.

- ... Que venho na igreja por três meses todas as semanas, “se for pouco tempo eu posso vir esporadicamente por mais três meses” – brinquei. Depois do culto volto para minha vidinha noturna e...

Estava me ambientando gradativamente e já conseguia disfarçadamente falar com mais facilidade.

-...Deus, se o Senhor me converter durante esses três meses “a força[2]”, pois eu sei que é do seu interesse salvar minha alma. Se o Senhor me transformar em um crente de verdade, sem minha ajuda, passarei a acreditar no Senhor. Largo tudo o que faço e vou te servir, topo qualquer “parada”, faço o que o Senhor quiser, serei sua testemunha, levarei seu evangelho onde quiser.

É lógico que gaguejava de vez em quando, vigiava, parava com movimento das pessoas e aos “trancos e barrancos”, estava conseguindo me explicar. Confesso que me sentia meio ridículo, sussurrando sozinho no meio do povo, mas os hinos, o burburinho da igreja louvando a Deus me facilitava um pouco.

- Jesus, quero deixar claro que vou estar com a grana, o cigarro e “tudo o mais”, preparado para sair e entrar na noite, ok! Isto é venho na igreja, cumpro minha parte do trato e desapareço, certo?!

Era uma igreja comprida, tinha muita gente e muita luz. Acostumado com ambientes noturnos e com pouca luz me sentia estranho, incomodado, inquieto, fiquei pouco à vontade e procurei sentar em um dos últimos bancos, para não chamar a atenção. Precisava fazer a proposta para Deus, mas estava encontrando dificuldades para falar com Ele, em meio aquela situação, por isso abaixei a cabeça, os olhos vigiando, coloquei a mão sobre a boca e me comuniquei em sussurros.

É comum alguém fazer um voto a Deus, comprometendo alguma área de sua vida, mas eu de uma vez por todas fiz um voto de compromisso total, em todas as áreas de minha vida, mesmo sem ter consciência das dificuldades em cumprir tal voto. E por incrível que possa parecer não estava brincando, minha proposta era absurda, porém séria porque se realmente existisse um Deus capaz de fazer tal proeza, eu precisava conhecê-lo e com certeza iria servi-lo durante toda a minha vida.

Estávamos conversados, encerrei por aí e fui embora pensando na vida.

             Nasci em Ubatuba, litoral norte de São Paulo, vivi durante minha infância e adolescência no aeroporto onde meu pai trabalhava e contava com um espaço enorme e muita facilidade para manter um contato muito estreito com a natureza, que me dava sensação de liberdade. Tive problemas de adaptação na escola justamente por essa causa. Lá eu me sentia como um animal engaiolado e passei a agir com extrema agressividade. A escola levou algum tempo para me domar e entendo que me foi tremendamente benéfica, pois a partir daí eu passei a dominar o código da escrita, ampliar meus conhecimentos e a exercer maior independência em minha vida. Deixei de freqüentar a escola dominical e posteriormente os cultos da igreja presbiteriana independente de Ubatuba, onde meu pai era oficial de igreja (Presbítero), entre nove a dez anos, quando entrei em um time de futebol dente de leite e fiquei deslumbrado com as inúmeras atrações que este mundo oferece. Passei a conhecer garotas, namorar e freqüentar bailes e boates aos quatorze ou quinze anos de idade porque a vida no litoral facilita muito o envolvimento com a busca do prazer e a satisfação carnal. Uma desilusão amorosa aos dezoito anos me precipitou mais ainda na noite, na boêmia e na farra. Agora com vinte e seis anos após conhecer a vida e os prazeres da carne de forma bastante precoce, me dirigi a uma igreja evangélica de minha cidade natal para fazer uma proposta a um Deus, que jamais havia conhecido de forma direta e pessoal. Dois sentimentos se digladiavam em meu ser, por um lado queria continuar minha vidinha de busca do prazer, por outro queria conhecer aquele Deus que conversa com a gente lendo pensamentos, por isso me sentia meio confuso com aquela situação.

O verão se fora. Voltei para Caraguatatuba onde moro; para meu trabalho cotidiano e passei a freqüentar a igreja de minha cidade para continuar cumprindo minha parte do trato e exceto alguns problemas de saúde, nada havia acontecido de novo. A falta de algum elemento novo nessa questão me desestimulava e por vezes tinha dificuldade em continuar a freqüentar os cultos semanais, que havia me comprometido fazer e a saúde piorava. Algum tempo depois após ter consultado vários médicos, pois tinha dores de cabeça constantes e não haver obtido um resultado positivo, resolvi fazer uma bateria de exames no hospital dos servidores em São Paulo. Resultado: nada. Não tinha nada, por incrível que pareça eu tinha sintomas, mas não tinha doença. Irritadíssimo, discuti com os médicos e fui convencido a dar um tempo e voltar para fazer outros exames em outra oportunidade, mas a partir da volta para casa comecei a imaginar uma possível ligação, entre a prova com Deus e minha estranha doença. Fiquei bronqueado, resolvi resistir, agora por teimosia, decidi não ceder dentro de três meses, em hipótese nenhuma, agora só arrastado ou se algo fora do previsível acontecesse. E aconteceu.

Quando faltava pouco tempo para encerrar os três meses cai miseravelmente endemoninhado no meio da igreja. Um espírito imundo se manifestou em meu corpo e em minha vida. Não poderia imaginar na época que conheceria Deus da forma mais difícil, pois antes de chegar até Ele seria entregue na mão de demônios. Não podia conceber nessa época, que Deus jamais converte alguém por força ou violência, basta que ele retire a proteção de sua mão ou de seus anjos, como estava acontecendo comigo e tudo desmorona, como uma terrível avalanche de lutas e tribulações insuportáveis. A princípio o demônio tentou se passar pelo Espírito Santo, durante esse período me ensinou muita coisa da Bíblia e até mesmo do céu, é lógico sempre distorcendo a parte em que o Cristo veio em carne para salvar. Em um segundo estágio passou a dominar meu corpo sem meu conhecimento e a fazer barbaridades na igreja e em minha casa.

Certa noite ele usou meu corpo durante boa parte da madrugada, batia em meu peito e dizia:

- Este é meu. Este vou levar comigo... – falava com minha família.

Quando acordei para trabalhar no dia seguinte estava exausto, pois meu corpo havia servido de cavalo ao demônio durante a noite inteira.

A partir desses episódios e do relato de meus familiares, me conscientizei que estava sendo possuído por um espírito das trevas. Uma entidade que jamais achei possível existir, mas que estava conhecendo da maneira mais dura possível. Certa feita eu estava possuído pelo demônio em minha casa e mandaram chamar o pastor da igreja evangélica Assembléia de Deus. Pobre pastor, não estava preparado, por isso o espírito demoníaco zombava dele.

A partir daí minha vida ruiu. Demônios, cansaço, medo, possessão, problemas de saúde, nervosismo, incerteza. Todas essas coisas desabaram sobre minha cabeça e minha vida num repente. O demônio que me possuía, resistia a todo e qualquer tipo de expulsão e pela primeira vez me senti sozinho e perdido, minha situação estava se tornando desesperadora, nesse momento eu estava precisando mesmo era de um salvador.

Talvez você já tenha visto um endemoninhado se debatendo em algum lugar ou alguma igreja. É comum quando isso acontece, que alguns corram, outros enfrentam as entidades no nome de Jesus, outros aguçados pela curiosidade assistem de longe. E possível até que alguns nem acreditem ou até mesmo zombem de toda a situação, mas o que ninguém pode imaginar é como se sente o pobre coitado que esta ali rolando pelo chão miseravelmente possuído por espíritos ou entidades, as quais você não pode e não consegue controlar. Entidades essas que não dormem, não se cansam, te odeiam e tem a intenção de roubar matar e destruir. Seres espirituais que durante milênios se aprimoraram, desenvolveram e aperfeiçoaram seus critérios de malignidade, sem entranhas, sem misericórdias, frios e desprezíveis.

Se por alguns minutos os servos de Deus imaginassem a situação de um homem possesso por demônios, com certeza se dedicariam mais e mais a se consagrar diante do Senhor Deus Todo Poderoso, buscando a libertação dessas vidas possuídas e oprimidas por hostes da maldade nos lugares celestiais. No meu caso, é bem verdade, eu havia pedido por tudo e só estava colhendo o que havia plantado, mas o que Deus quer realmente são homens mulheres e crianças cheias do Espírito Santo, para enfrentarem situações com pessoas endemoninhadas e através do grande e respeitado nome de Jesus Cristo, trazer libertação e possibilitar ao possesso, sair de uma situação que pode conduzi-lo a morte e ao inferno.

Eu havia feito uma prova com Deus e da maneira mais dura possível, para minha capacidade de suportar sofrimentos e experiências aterrorizantes, estava sendo conscientizado que os demônios eram reais, que existia o império das trevas com suas hostes, principados e potestades. Antes mesmo de mostrar sua existência de forma explícita, o Senhor Deus estava mostrando o lado oposto, para que a partir daí iniciasse a busca da experiência necessária ao conhecimento da luz. Sabendo então que o mal existia segundo o relato das escrituras sagradas e que ele estava ali me oprimindo através daquela entidade, então existia também o bem, pois a verdade está inserida na mesma escritura, e, para mim só existia uma possibilidade, correr para o outro lado, correr do mal para o bem, das trevas para a luz, correr da morte para a vida, correr do Diabo para Jesus. Mas como fazer isso, como chegar até um Deus que eu praticamente não conhecia, como se chegar a um Deus que é espírito, como? Eu sabia que a resposta estava nas escrituras sagradas, sim desde criança eu sabia que naquele livro estavam todas as respostas, por isso foi por ali que eu comecei.

Quando Deus o todo Poderoso colocou em meu coração que ali estava à saída das trevas e a entrada da luz comecei a ler, estudar, comer, devorar a palavra de Deus. Descobri que vários profetas haviam comido o rolo do livro como eu estava fazendo, eu não era o primeiro e com certeza não serei o último e passei a ter uma maior aproximação Dele. A partir daí tomei contato com versículos tais como: “Sujeitai-vos, pois, a Deus; mas resisti ao Diabo, e ele fugirá de vós. Chegai-vos para Deus, e ele se chegará a vós. Limpai as mãos, pecadores; e, vós de espírito vacilante, purificai os corações” (Tg 4.7,8). “Dai graças ao Senhor, porque ele é bom; porque a sua benignidade dura para sempre; digam-no os remidos do Senhor, os quais ele remiu da mão do inimigo” (Sl 107.1,2). “Provai, e vede que o Senhor é bom; bem-aventurado o homem que nele se refugia” (Sl 34.8). Esses versículos e outros mostraram a mim o caminho, o escape e a saída do atoleiro espiritual em que havia me metido. Aliás, a Bíblia sagrada é a solução de todos os problemas, ela é a representação escrita de Cristo, é o espelho que nos mostra Deus, é a verdade que liberta, foi naquele momento minha tábua de salvação e passou a ser a partir daí meu manual de vida. Posso assegurar que se alguém começar a estudar as escrituras e descobrir porque ela é chamada de “o livro dos livros”, com certeza terá encontrado Deus e estará com a alma liberta e vivendo na paz do Senhor que excede todo o entendimento humano.



[1] Provai, e vede que o SENHOR é bom; bem-aventurado o homem que nele confia. SL 34.8.
[2] Com certeza Deus não converte ninguém por força ou violência, porém eu não tinha consciência disso no início de minha vida cristã. Entendo que na narração dos fatos a seguir o Todo-Poderoso somente retirou sua proteção de sobre mim por ser filho de crente e sofri todas as repercussões de minha proposta, por alguns considerada absurda.

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