segunda-feira, 28 de maio de 2012

TESTEMUNHO - CAPÍTULO 13


            CAPÍTULO 13


BATIZADO NO ESPÍRITO SANTO

- Você tem vergonha de me louvar.

- Mas o Senhor não é Onipotente, Onipresente e Onisciente, pra que vou ficar gritando como esses malucos? A afirmação chegou ao meu íntimo de forma inusitada. Os espíritos imundos falavam comigo de fora para dentro, o Espírito Santo falava lá dentro de meu coração, de uma forma nova, marcante, misteriosa e interessante, e embora eu não abrisse minha boca, Ele continuava falando...

- Mas na noite, quando servia as trevas você não se envergonhava, aqui você me discrimina...

- Certo tenho vergonha mesmo...  Sou obrigado a admitir... Mas como vou resolver este problema?... Já sei... Vou lá na frente quando for na hora da oração para Jesus batizar no Espírito Santo, vou berrar glória a Deus e aleluia para quebrar minhas próprias barreiras.

Estava decidido. E assim foi feito. Era uma confraternização de jovens que acontecida no final de julho, três meses depois de ter sido batizado nas águas, na cidade de Santos, onde pregava o Pastor Valdir Bícego e o Pastor Hidekazu Takayama. Eu estava lá no meio dos jovens, agora com vinte e seis anos de idade buscando a graça de Deus para a minha vida, queria ser batizado com o Espírito Santo e argumentava com Jesus em súplicas jejum e oração que era um caso de vida ou morte. Meu argumento era “O senhor prometeu e eu quero e preciso ser batizado no Espírito Santo. O Senhor sabe que é uma questão de vida ou morte”. Com esse argumento, marquei a ocasião propícia para o batismo na festa de confraternização de jovens daquela data e corri atrás da benção com uma convicção que hoje me surpreendo em lembrar.

- “GLÓRIA A DEUS!...” “ALELUIA!...” – Gritei com toda força de meus pulmões. Senti minha face esquentar, sabia que estava ficando ruborizado, dei uma olhada de soslaio e vi vários jovens olhando como se vissem um maluco, pensei com meus botões “que vergonha!”, era difícil quebrar essas barreiras e exteriorizar meus louvores, mas sabia que a vergonha era um obstáculo que precisava ser vencido, já havia lido nas escrituras algo a esse respeito[1], sabia que implicava até na salvação, por isso continuei gritando. -... GLÓRIA A DEUS!... ALELUIA!...

Percebi que o Espírito começou a se derramar como da primeira vez e mais uma vez jovens foram batizados em minha frente, do meu lado esquerdo, do lado direito atrás e comigo... Nada! Nada aconteceu.

Fiquei inconformado, afinal de contas tinha feito minha parte conforme as instruções recebidas. Tinha culto marcado para a manhã, tarde e noite. Sexta, sábado e domingo. Eu estava presente em todos, ia para frente com o intuito de receber o batismo, insistia com toda a energia de minha alma, pois queria e precisava dessa benção em minha vida. O Senhor batizava em minha frente, dos lados, atrás e eu não recebia. A festa estava se aproximando do fim. O último culto estava marcado para o Estádio Saldanha da Gama. Alguns milhares de crentes encheram o estádio. Eu desci para a quadra, fiquei próximo ao palanque com um púlpito improvisado, era a última chance sabia que tinha chegado a hora. Ouvi a pregação, vi um demônio ser expulso na minha frente, nada me deteria agora. Houve o convite para aceitar a Jesus, em seguida o Pastor Takayama convidou para a oração do batismo, avancei, outros avançaram, ficamos em pé, começamos a orar. Podia contemplar jovens começando a falar em outras línguas em minha frente, do meu lado esquerdo, do meu lado direito, como se o Espírito estivesse passando (era a impressão que eu sentia), por mim e eu... Nada.

Nem ao menos aquele aquecimento peculiar, nem os arrepios sobrenaturais, nem as lágrimas de sempre, nem sensação de gozo, como havia sentido antes, nem aquela sensação gostosa no fundo do coração, nada. Não sentia nada, antes me sentia como a ovelha rejeitada, que sensação horrível. Comecei a imaginar que talvez não fosse digno de receber aquela dádiva por ter sido um terrível pecador, ou talvez não tivesse orado e jejuado o suficiente, ou talvez...

Um turbilhão de hipóteses começou a surgir enquanto me dirigia para o ônibus que nos traria de volta para casa, caminhava como um zumbi absorto em meus pensamentos. Comecei a agradecer a Deus porque imaginava que tinha recebido a proporção suficiente ao que tinha buscado e por fim perdi meu lugar no ônibus porque entrei meio atrasado. Tudo tinha dado errado. Meu propósito fundamental, todo o esforço dispendido durante aquele mês jazia infrutífero. Ainda por cima alguns crentes que não tinham vindo conosco, subiram para o ônibus e tomaram meu lugar. Nada deu certo. Absolutamente nada. Fui até a “cozinha[2]” do ônibus e sentei em cima de uma caixa de som que estava no meio do corredor. Estava sem forças ao menos para pedir meu lugar de volta, estava triste e desanimado, sentia muita vontade de chorar. Sabia que nessas circunstâncias, se tentasse ao menos conversar com alguém choraria a cântaros e não sei porque não gosto de demonstrar a ninguém meu estado de espírito interior, por isso sentei e me aquietei em meu cantinho.

O ônibus começou a se movimentar e os irmãos da igreja começaram a cantar um hino de muito sucesso na época: “Divino companheiro do caminho, tua presença sinto logo ao transitar...” De repente uma brisa suave e espiritual começou a se fazer sentir dentro do daquele recinto. Os irmãos do banco da frente começaram a manifestar em glórias e aleluias aquela presença santa, a intensidade aumentava gradativamente, começaram a falar em outras línguas, o clima do ônibus esquentava a cada minuto. Jesus começou a batizar com o Espírito Santo e em dado momento àquela unção deliciosa me alcançou no fundo do ônibus, senti aquela enxurrada de poder e concomitantemente percebi que tinha chegado minha vez. Na verdade não esperava por nada mais naquela noite, por isso a alegria daquele momento era ampliada pela surpresa de estar recebendo e sentindo aquela unção deliciosa, aquele gozo acima de qualquer descrição.

Uma unção celestial me fez levantar e me fazia ver uma enorme igreja. Um gozo, um deleite do céu, uma coisa maravilhosa me tomou naquele momento ao ver aquela igreja em minha frente, sentia uma enorme necessidade de cantar corinhos, de pregar a palavra de Deus para um povo que só eu via naquele momento. Movido por esse poder, magnetizado pela visão preguei desde a cidade de Santos até a cidade de Caraguatatuba. Lembro-me que em alguns momentos tentavam me fazer sentar, tentavam me acalmar, mas era infrutífero o trabalho, porque eu me levantava e pregava com redobrado esforço. Quando cheguei na entrada da cidade, mais ou menos na altura da entrada para o Rio do Ouro, pouco depois de passar o novo posto da guarda rodoviária estadual, comecei a pregar em uma outra língua. Era uma coisa tremenda, saia de meu espírito aos borbotões, mudava em variedades de línguas de forma inexplicável, me permitia cantar, gritar, louvar em mistérios, ainda que eu não entendesse absolutamente nada. O que mais me impressionava era que mesmo que eu tentasse explicar como e de onde vinha era impossível. Tentar colocar em palavras tudo o que vivia naquele momento é algo absolutamente impossível e com certeza estaria chovendo no molhado, cairia em uma repetição sem tamanho.

Morava no Jardim Primavera, na Avenida Paraná, em Caraguatatuba por isso desci do ônibus, na altura do posto do Nagai[3] e fui para casa no meio da madrugada cantando louvando e agradecendo a Deus em línguas. Cheguei, acordei todo o mundo, pois não conseguia conter a alegria, passei a noite toda louvando a Deus em mistérios, não consegui dormir, fui trabalhar no dia seguinte, na escola[4], no Bairro da Ponte Seca, mas ainda estava louvando e adorando a Deus em línguas estranhas, não consegui e não queria parar. Os alunos e as professoras a princípio ficaram meio assustados e correram de perto de mim, só então percebi que estava exagerando e contive um pouco meu ímpeto e minha alegria, mas isso foi o suficiente para que todo o Bairro ficasse sabendo que eu havia me convertido e que havia sido batizado no Espírito Santo. Hoje não só o Bairro, mas toda a cidade, todo o sistema de ensino, todos os crentes, toda a região me conhece, porque a unção de Deus realmente é dada para nos dar o poder para vencer as trevas, para testemunhar o evangelho de Cristo e nos transformar em ganhadores de alma e como conseqüência natural ficamos conhecidos na região em que vivemos. Se você não recebeu ainda, saiba que o único pré-requisito necessário para que isso aconteça é o arrependimento[5]. Uma vez arrependido de seus pecados é só bater, buscar e pedir que com certeza receberá, afinal a palavra de Deus nos dá indícios que nos permitem crer que todos podem receber[6].



[1] Porquanto, qualquer que, entre esta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai, com os santos anjos. Mc 8. 38.


[2] Parte traseira onde ficam os últimos bancos.
[3] Posto Shell que fica na entrada da cidade de Caraguatatuba e pertence a um Japonês muito conhecido.
[4] Sou professor da rede pública estadual de ensino, hoje estou municipalizado junto à rede pública de ensino municipal na cidade de Caraguatatuba, SP.
[5] E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo. At 2.38.
[6] E eu quero que todos vós faleis em línguas, mas muito mais que profetizeis; porque o que profetiza é maior do que o que fala em línguas, a não ser que também interprete para que a igreja receba edificação. I Co 14. 5.

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