quarta-feira, 30 de maio de 2012

TESTEMUNHO - CAPÍTULO 15


CAPÍTULO 15

UM ACORDO TEM DOIS LADOS

- Tenho uma mensagem de Deus para você!

- Mensagem de Deus?

- Sim. Deus me trouxe desde São Paulo até esse lugar para lhe entregar uma mensagem.

Fiquei impressionado. Não sabia que Deus fazia coisas como esta. Afinal eu estava em um lugar escondido entre as cidades de Ubatuba e Caraguatatuba, entrando para os lados das montanhas, em um lugar chamado Corcovado, em um retiro espiritual e a possibilidade de alguém conhecido me encontrar era mínima, quanto mais de alguém que não me conhecia e que pertencia à outra cidade.

- Entregue a mensagem.

- Você fez um acordo com Deus, certo?

- Sim!

...Como ela tinha conhecimento deste fato? Isso foi algo que me chamou atenção de imediato, pois os meandros desse acordo não eram do conhecimento de ninguém. Em outras palavras existiam segredos que dificilmente meus amigos saberiam quanto mais uma irmã na fé totalmente desconhecida.

- Ele cumpriu a parte Dele, certo?

- Sim.

- Agora Ele manda te dizer que você vai ter de cumprir a sua, ok?

- Sim, mas o que tenho que fazer?

- Ele mandou-te dizer que vai te enviar para pregar sua palavra em determinados lugares e você terá de ir e por fim mandou te dar um aviso.

- Qual é esse aviso?

- Ai de você se você não for!

Ela se despediu e se foi, nunca mais a vi. Algum tempo depois recebi outras mensagens, por outros vasos, em outros lugares, de forma que não ficasse dúvida que procediam do Salvador de minha alma e comecei a me preparar psicologicamente, para cumprir minha parte do trato sem ao menos ter idéia de como, quando e onde tudo iria começar.

Cantava com os jovens da igreja, arranhava um pouco de guitarra, participava de todos os cultos, ia a todas as festas, dava aula na escola dominical, me aclimatava rapidamente. Recebi ordens do Senhor para deixar a música que estava aprendendo e me dedicar ao estudo e pregação, a principio não gostei muito da troca porque entendia que a música era mais fácil de trabalhar do que a palavra, mas não teve jeito, deixei o lado musical e voltei-me para a palavra.

Curiosamente nessa época começaram a vir obreiros da sede em Santos para pregar em minha cidade, um deles se destacava porque era eloqüente em suas pregações, pela forma que Jesus confirmava com sinais prodígios e maravilhas e porque muitas vidas eram batizadas no Espírito Santo nos movimentos que participava. Era conhecido por “Evangelista Enéas”. Meu irmão mais novo, que também se converteu por essa época, foi ter com ele em certa oportunidade e perguntou como fazer para começar um ministério de pregações e evangelismo como o dele. A resposta mandava que ele iniciasse pelos bairros, casas, becos e cantos onde ninguém quisesse ir.  Meu irmão quis saber o porquê de começar por lugares tão humildes e a resposta foi que nos púlpitos centrais havia sempre uma espécie de disputa que dificultava o aprendizado de iniciantes, porém nos lugares onde ninguém queria ir, um iniciante dirigido por Deus, aprenderia a ganhar almas e com certeza aprimoraria estratégias, sem empecilhos. Na verdade, meu irmão que estava realmente interessado na pergunta e na resposta daquele evangelista nunca fez o que propunha, pois se desviou dos caminhos do Senhor, mas eu que não tinhas nada a ver com esse diálogo, resolvi seguir o conselho do irmão e colocar em prática o que havia ensinado. Comecei a pregar a palavra de Deus em lugares humildes, onde ninguém queria, em bairros, casas, ruas, becos e etc.

Nesse ínterim, o pastor da igreja onde freqüentava, programou uma escala de obreiros que deveriam visitar as congregações dos bairros da cidade e com certeza pedi para ser incluído na lista, porque vi na oportunidade uma grande chance de cumprir os conselhos do irmão Enéas, porém minhas primeiras pregações não causavam os mesmos resultados que via no evangelista, não tinha impacto e fiquei decepcionado com tudo, me sentia como um jogador de futebol que chegava diante do gol e chutava a bola para fora, fiquei arrasado, perdi o estímulo, percebi que as coisas não seriam tão fáceis como eu previa.

Concomitantemente os ouvintes traziam problemas de vida, problemas familiares, problemas sociais, problemas de imóveis, problemas de doenças, eram muitos problemas e pressionado por resultados negativos e por problemas para mim impossíveis de resolver, busquei ao Senhor para que soluções fossem apresentadas, afinal de contas em meu entender, meu começo estava sendo um verdadeiro desastre. Não conseguia pregar e ter um culto avivado em nível de pregadores da Assembléia de Deus e ainda por cima eram apresentados problemas insolúveis a um ser humano limitado como eu.

Na busca de soluções e a primeira orientação foi para levar tudo em oração diante de seu altar. Eu poderia até ouvir a exposição de todos os problemas para em seguida colocar diante Dele para que Ele, em sua grandeza e poder resolvesse tudo. Fiz conforme sua orientação e os primeiros resultados começaram a aparecer. Irmãos me procuravam para contar bênçãos, com as quais eu tinha ligação direta, isso era estimulante ao extremo e me deu forças para continuar. A segunda solução, a qualidade das pregações e das mensagens, foi só com o tempo. À medida que fui pregando, analisando os ouvintes, outros pregadores, os resultados de cada pregação, o conteúdo de cada mensagem, o Espírito começou a mostrar minhas falhas, meus defeitos e fui corrigindo paulatinamente conforme orientação do Evangelista Enéas. Um de meus grandes defeitos era colocar muito conteúdo em uma só mensagem e não fazer a aplicação ao cotidiano das pessoas, sobrecarregava a mensagem com excesso de informações, isso fazia com que muitos até não entendessem ou até mesmo não vibrassem, em outras palavras não era agressivo em palavras e corrigir não foi difícil, pois pecava por excesso e não por falta. Bastou fazer doses homeopáticas e aplicar melhor os ensinos bíblicos ao cotidiano do ouvinte e tudo começou a se encaixar. É lógico que durante todos esses anos muitos detalhes o Senhor vem mostrando e vem corrigindo, na prática diária da pregação do evangelho, porém acredito que o problema número um que atrapalhava os resultados foi o que citei acima.

- Servo ungi suas mãos para curar.

“Não senti nada” - pensei. “Não vi, nem ouvi, nem senti nada. Será que foi o Senhor mesmo quem falou?” Só havia uma maneira de saber colocar em prática. Nas próximas pregações, fiz o convite aos que queriam aceitar Jesus, em seguida chamei todos os enfermos para a oração da fé e não demorou muito começaram a voltar os resultados. Testemunhos e mais testemunhos chegavam até meu conhecimento de cura divina. Realmente esta é uma obra de fé, os sinais, prodígios e maravilhas seguem aos que crerem, é só tomar a postura de produzir frutos que Deus nos limpa para produzirmos mais frutos e o que se segue é facilmente previsível.

- Servo hoje você sobe mais um degrau.

- Servo hoje você ganha mais uma divisa.

Não foi uma nem duas vezes que ouvi frases semelhantes. Mas nada de visível acontecia. Chegava até mesmo a duvidar da procedência da mensagem porque não entendia o que acontecia.  Só com o tempo fui perceber que a cada frase proferida havia um maior investimento de poder da parte do Espírito Santo. Em outras palavras, à medida que eu pregava, meus erros eram corrigidos e aprimorados em todos os aspectos da vida cristã, inclusive na pregação da palavra de Deus e concomitantemente havia um maior investimento de poder em meu ministério. Era como se tivesse entrado num exército espiritual como soldado, com um poder e autoridade espiritual bastante limitada e esse poder fosse acrescentado paulatinamente à medida que o trabalho era colocado em execução. Se considerarmos a hierarquia material de um exército, com certeza concluiremos que essa ascensão continua até o oficialato, estado maior e etc. e podemos a partir daí entender como Deus vinha investindo em minha vida, os pré-requisitos necessários para que a obra acontecesse[1].

O Pastor Duda, autor da escala de pregações foi transferido para outra cidade, porém as portas permaneceram abertas, pois os dirigentes de congregação, já haviam acostumado a receber a ajuda do “Irmão Tico”. A escala de pregações em minha cidade foi ampliada com a inclusão de outras denominações e desde esse período até o dia de hoje, nunca deixei de prestar ajuda a todos os que me pediram e pude atender. Também nunca falei em dinheiro, pois entendo que estou cumprindo minha obrigação com Cristo, embora normalmente as igrejas subsidiem parcial ou integralmente despesas de viagens. Nesse momento que estou escrevendo estas linhas, tenho mais de trinta anos de fé cristã, três deles foram de provações e ensino da parte de Deus, o restante, vinte e poucos de trabalho, pregando diversas vezes na semana em tudo quanto é lugar que se possa imaginar por este litoral e adjacências.



[1] Quero deixar claro que essa foi uma experiência pessoal e não constitui uma norma ou uma doutrina da forma como Cristo treina seus discípulos.

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