CAPÍTULO 15
UM ACORDO TEM DOIS LADOS
- Tenho uma mensagem de
Deus para você!
- Mensagem de Deus?
- Sim. Deus me trouxe desde
São Paulo até esse lugar para lhe entregar uma mensagem.
Fiquei impressionado. Não
sabia que Deus fazia coisas como esta. Afinal eu estava em um lugar escondido
entre as cidades de Ubatuba e Caraguatatuba, entrando para os lados das
montanhas, em um lugar chamado Corcovado, em um retiro espiritual e a
possibilidade de alguém conhecido me encontrar era mínima, quanto mais de
alguém que não me conhecia e que pertencia à outra cidade.
- Entregue a mensagem.
- Você fez um acordo com
Deus, certo?
- Sim!
...Como ela tinha
conhecimento deste fato? Isso foi algo que me chamou atenção de imediato, pois
os meandros desse acordo não eram do conhecimento de ninguém. Em outras
palavras existiam segredos que dificilmente meus amigos saberiam quanto mais uma
irmã na fé totalmente desconhecida.
- Ele cumpriu a parte Dele,
certo?
- Sim.
- Agora Ele manda te dizer
que você vai ter de cumprir a sua, ok?
- Sim, mas o que tenho que
fazer?
- Ele mandou-te dizer que
vai te enviar para pregar sua palavra em determinados lugares e você terá de ir
e por fim mandou te dar um aviso.
- Qual é esse aviso?
- Ai de você se você não
for!
Ela se despediu e se foi,
nunca mais a vi. Algum tempo depois recebi outras mensagens, por outros vasos,
em outros lugares, de forma que não ficasse dúvida que procediam do Salvador de
minha alma e comecei a me preparar psicologicamente, para cumprir minha parte
do trato sem ao menos ter idéia de como, quando e onde tudo iria começar.
Cantava com os jovens da
igreja, arranhava um pouco de guitarra, participava de todos os cultos, ia a todas
as festas, dava aula na escola dominical, me aclimatava rapidamente. Recebi ordens
do Senhor para deixar a música que estava aprendendo e me dedicar ao estudo e
pregação, a principio não gostei muito da troca porque entendia que a música
era mais fácil de trabalhar do que a palavra, mas não teve jeito, deixei o lado
musical e voltei-me para a palavra.
Curiosamente nessa época
começaram a vir obreiros da sede em Santos para pregar em minha cidade, um
deles se destacava porque era eloqüente em suas pregações, pela forma que Jesus
confirmava com sinais prodígios e maravilhas e porque muitas vidas eram
batizadas no Espírito Santo nos movimentos que participava. Era conhecido por
“Evangelista Enéas”. Meu irmão mais novo, que também se converteu por essa
época, foi ter com ele em certa oportunidade e perguntou como fazer para começar
um ministério de pregações e evangelismo como o dele. A resposta mandava que
ele iniciasse pelos bairros, casas, becos e cantos onde ninguém quisesse
ir. Meu irmão quis saber o porquê de
começar por lugares tão humildes e a resposta foi que nos púlpitos centrais
havia sempre uma espécie de disputa que dificultava o aprendizado de
iniciantes, porém nos lugares onde ninguém queria ir, um iniciante dirigido por
Deus, aprenderia a ganhar almas e com certeza aprimoraria estratégias, sem
empecilhos. Na verdade, meu irmão que estava realmente interessado na pergunta
e na resposta daquele evangelista nunca fez o que propunha, pois se desviou dos
caminhos do Senhor, mas eu que não tinhas nada a ver com esse diálogo, resolvi
seguir o conselho do irmão e colocar em prática o que havia ensinado. Comecei a
pregar a palavra de Deus em lugares humildes, onde ninguém queria, em bairros,
casas, ruas, becos e etc.
Nesse ínterim, o pastor da
igreja onde freqüentava, programou uma escala de obreiros que deveriam visitar as
congregações dos bairros da cidade e com certeza pedi para ser incluído na
lista, porque vi na oportunidade uma grande chance de cumprir os conselhos do
irmão Enéas, porém minhas primeiras pregações não causavam os mesmos resultados
que via no evangelista, não tinha impacto e fiquei decepcionado com tudo, me
sentia como um jogador de futebol que chegava diante do gol e chutava a bola
para fora, fiquei arrasado, perdi o estímulo, percebi que as coisas não seriam
tão fáceis como eu previa.
Concomitantemente os
ouvintes traziam problemas de vida, problemas familiares, problemas sociais,
problemas de imóveis, problemas de doenças, eram muitos problemas e pressionado
por resultados negativos e por problemas para mim impossíveis de resolver,
busquei ao Senhor para que soluções fossem apresentadas, afinal de contas em
meu entender, meu começo estava sendo um verdadeiro desastre. Não conseguia
pregar e ter um culto avivado em nível de pregadores da Assembléia de Deus e
ainda por cima eram apresentados problemas insolúveis a um ser humano limitado
como eu.
Na busca de soluções e a
primeira orientação foi para levar tudo em oração diante de seu altar. Eu
poderia até ouvir a exposição de todos os problemas para em seguida colocar
diante Dele para que Ele, em sua grandeza e poder resolvesse tudo. Fiz conforme
sua orientação e os primeiros resultados começaram a aparecer. Irmãos me
procuravam para contar bênçãos, com as quais eu tinha ligação direta, isso era
estimulante ao extremo e me deu forças para continuar. A segunda solução, a
qualidade das pregações e das mensagens, foi só com o tempo. À medida que fui
pregando, analisando os ouvintes, outros pregadores, os resultados de cada
pregação, o conteúdo de cada mensagem, o Espírito começou a mostrar minhas falhas,
meus defeitos e fui corrigindo paulatinamente conforme orientação do
Evangelista Enéas. Um de meus grandes defeitos era colocar muito conteúdo em
uma só mensagem e não fazer a aplicação ao cotidiano das pessoas,
sobrecarregava a mensagem com excesso de informações, isso fazia com que muitos
até não entendessem ou até mesmo não vibrassem, em outras palavras não era
agressivo em palavras e corrigir não foi difícil, pois pecava por excesso e não
por falta. Bastou fazer doses homeopáticas e aplicar melhor os ensinos bíblicos
ao cotidiano do ouvinte e tudo começou a se encaixar. É lógico que durante
todos esses anos muitos detalhes o Senhor vem mostrando e vem corrigindo, na
prática diária da pregação do evangelho, porém acredito que o problema número
um que atrapalhava os resultados foi o que citei acima.
- Servo ungi suas mãos para
curar.
“Não senti nada” - pensei.
“Não vi, nem ouvi, nem senti nada. Será que foi o Senhor mesmo quem falou?” Só
havia uma maneira de saber colocar em prática. Nas próximas pregações, fiz o
convite aos que queriam aceitar Jesus, em seguida chamei todos os enfermos para
a oração da fé e não demorou muito começaram a voltar os resultados.
Testemunhos e mais testemunhos chegavam até meu conhecimento de cura divina.
Realmente esta é uma obra de fé, os sinais, prodígios e maravilhas seguem aos
que crerem, é só tomar a postura de produzir frutos que Deus nos limpa para
produzirmos mais frutos e o que se segue é facilmente previsível.
- Servo hoje você sobe mais
um degrau.
- Servo hoje você ganha mais
uma divisa.
Não foi uma nem duas vezes
que ouvi frases semelhantes. Mas nada de visível acontecia. Chegava até mesmo a
duvidar da procedência da mensagem porque não entendia o que acontecia. Só com o tempo fui perceber que a cada frase proferida
havia um maior investimento de poder da parte do Espírito Santo. Em outras
palavras, à medida que eu pregava, meus erros eram corrigidos e aprimorados em
todos os aspectos da vida cristã, inclusive na pregação da palavra de Deus e
concomitantemente havia um maior investimento de poder em meu ministério. Era
como se tivesse entrado num exército espiritual como soldado, com um poder e autoridade
espiritual bastante limitada e esse poder fosse acrescentado paulatinamente à
medida que o trabalho era colocado em execução. Se considerarmos a hierarquia
material de um exército, com certeza concluiremos que essa ascensão continua
até o oficialato, estado maior e etc. e podemos a partir daí entender como Deus
vinha investindo em minha vida, os pré-requisitos necessários para que a obra
acontecesse[1].
O Pastor Duda, autor da
escala de pregações foi transferido para outra cidade, porém as portas permaneceram
abertas, pois os dirigentes de congregação, já haviam acostumado a receber a
ajuda do “Irmão Tico”. A escala de pregações em minha cidade foi ampliada com a
inclusão de outras denominações e desde esse período até o dia de hoje, nunca
deixei de prestar ajuda a todos os que me pediram e pude atender. Também nunca
falei em dinheiro, pois entendo que estou cumprindo minha obrigação com Cristo,
embora normalmente as igrejas subsidiem parcial ou integralmente despesas de
viagens. Nesse momento que estou escrevendo estas linhas, tenho mais de trinta
anos de fé cristã, três deles foram de provações e ensino da parte de Deus, o
restante, vinte e poucos de trabalho, pregando diversas vezes na semana em tudo
quanto é lugar que se possa imaginar por este litoral e adjacências.
[1]
Quero deixar claro que essa foi uma experiência pessoal e não constitui uma
norma ou uma doutrina da forma como Cristo treina seus discípulos.
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