CAPÍTULO 16
CASAMENTO NO SENHOR
-
Posso saber onde você estava?
- Por aí.
Eu era perito em dar
respostas evasivas. Durante muitos anos tinha agido de maneira semelhante com minha
mãe, e por incrível que pareça a situação voltava a se repetir mais cedo do que
poderia imaginar.
- O que estava fazendo?
- Conversando com os
amigos.
Sabia qual o rumo que a
conversa iria tomar. Pensei comigo mesmo. “Como as mulheres são possessivas.
Meu Deus! Já assisti a esse filme antes, ela está fazendo igualzinha minha mãe”.
Ela continuaria bisbilhotando e logo eu lhe perguntaria se ela é da polícia e
viraria o jogo a meu favor, já estava a acostumado a fazer isso com minha mãe,
por que não faria de novo.
- Com quem você estava?
- Escuta você é da polícia?
- NÃO SOU DA POLÍCIA NÃO,
MAS SOU SUA ESPOSA. E VOCÊ FEZ UM MONTE DE PROMESSAS PARA MIM EM FRENTE A UM
GRANDE NÚMERO DE TESTEMUNHAS E DIANTE DO ALTAR DO SENHOR QUE CRIOU O CÉU E A TERRA,
E AGORA EU PEÇO SATISFAÇÃO A VOCÊ COMO SUA METADE E VOCÊ ME PERGUNTA SE EU SOU
DA POLÍCIA?! – falou elevando o tom da voz com autoridade.
Por essa não esperava.
Olhei para ela atônito. Lembrei a entrada na igreja. Seu pai a trazia como um
presente de Deus para minha vida. Abri a faixa que separava sua vida de
compromissos com seu pai e sua antiga vida de solteira e me liguei a ela diante
do Senhor e de toda a sua igreja. Foi um lindo episódio em nossas vidas.
Lembro-me perfeitamente de trazê-la diante do altar de Deus onde se encontrava
o Pastor Luiz Aniceto, homem de Deus extremamente conhecido em toda a região do
Litoral. Suas palavras de conselho. Um cerimonial cheio de convidados, festas e
fotos. Muitas fotos. Foi lindo.
- Vai aprendendo, de agora
em diante você vai ter que me dar satisfação sim, assim como eu terei que dar
satisfação a você, como sua esposa e sua metade. Amo você, e não vou ficar aqui preocupada,
imaginando onde você possa estar, enquanto você passeia sossegado e tranqüilo
pela cidade, conversando com seus amiguinhos!
“Meu Deus, que fora” –
pensei. Ela tinha toda razão. Teria que me adequar a essa nova situação.
Realmente segundo a palavra de Deus agora, éramos um e para que isso
acontecesse na prática teríamos que ceder a metade. Deus já tinha me falado a
esse respeito pela palavra que existia um mistério a ser desvendado na vida
conjugal[1].
Acredito até que Ele já antevia a “chicotada” que eu iria levar e me preparou
para ela. Se os dois não cedessem cada um sua metade, um anularia o outro e o
casamento naufragaria. Já estava ciente e cedi.
- Ok, perdoe-me, estou
errado. Prometo que desde esse dia darei satisfação a você de todos os lugares
onde for.
Saí meio jururu, vi sua ira
momentânea se desvanecer, me acomodei em um canto da casa e fiquei a pensar no
assunto.
Durante dois anos
aproximadamente, após minha conversão, pedi ao Senhor uma solução para meu
problema porque havia acostumado no meio do mundo de iniqüidade a satisfazer
todos os anseios da carne. Agora em meio a tantas ovelhinhas saudáveis, em
terra seca e com uma ‘sede tremenda’ precisava encontrar com urgência a costela
preparada para mim. Porém tinha ciência que teria que viver com ela durante
toda a vida. Sabia que precisava escolher a pessoa certa para casar e meu tempo
havia se passado na balada da vida, sem que eu conseguisse resolver esse
problema, por isso precisava do aval de Deus para escolher a pessoa certa e silenciosamente
orei a Deus pedindo sua ajuda.
Algum tempo depois o Senhor
me transmitiu a seguinte mensagem através de um vaso:
- Servo, sua futura esposa
está em sua frente, você olha para ela e não a vê. Fala com ela e não sabe.
Aquilo caiu sobre mim como
uma bomba. Havia passado grande parte da vida envolvido com mulheres. Virei,
segundo minha própria visão, um caçador, e agora Ele, o Senhor e Salvador de minha
vida, dizia que eu não tinha competência para distinguir a mulher ideal para
partilhar meu futuro. Fiquei ofendido. Ele ignorou.
- Mas vou emprestar os meus
olhos para que você veja.
Agora me senti realmente
ofendido. Ele, o Deus que comprou minha alma por um preço muito caro, que me livrou
das garras dos demônios, a única pessoa com quem tenho uma dívida impagável,
estava me chamando de cego. Mas não podia, não queria, não iria jamais reagir
com falta de educação com Ele. Por isso contendo minhas palavras, por que em
nossas conversas, nunca abro minha boca, pensei:
“Hoje o Senhor é a pessoa
que mais respeito em minha vida, mas de mulher eu entendo, como o Senhor vem me
chamar de cego? Pois bem, quero que o Senhor me empreste ‘seus olhos’, quero
ver com ‘esses seus olhos’” – falei disfarçando a irritação.
Saí daquele culto de oração
com um enigma na cabeça. “De que olhos Ele está falando. De quem Ele está falando”.
Normalmente eu sempre me perguntava se essas coisas aconteciam com os outros,
hoje sei que cada cristão tem sua própria experiência com Deus e nunca as experiências
são iguais, até porque não somos iguais e Deus não age de forma padronizada.
Não demorou muito para tudo fosse revelado. Recebi uma cartinha anônima de alguém
da igreja e fui conversar com a Eunice, para perguntar a ela se ela tinha idéia
de quem era a letra, afinal desde que havia me convertido ela passou a ser
minha amiga mais próxima, e me ajudava em todas as ocasiões. Nossa conversa
pendeu para assuntos íntimos e surpreendido ouvi uma confissão amorosa dos
lábios dela. Não fora ela quem havia escrito a carta, mas a carta foi o veículo
que conduziu sua confissão amorosa. Agora eu estava perplexo, durante toda minha
vida na balada eu tinha criado um código de honra meio esdrúxulo, em que jamais
tocaria em uma mulher que fosse minha amiga. De repente fico sabendo que minha
melhor amiga, evangélica, e minha irmã espiritual estava apaixonada por mim,
que ela me olhava, não somente como amigo, mas como homem, como um futuro
namorado, noivo ou até marido. Com uma situação inesperada, com uma barreira
dessas para transpor, sem amor propriamente dito, não havia a menor chance de
acontecer algo entre nós, mas aquilo tomou conta de meus pensamentos de forma
inusitada. Nunca havia tocado em uma amiga, será que conseguiria? Daria certo?
Conseguiria eu vencer meu próprio código de honra?
Uma coisa era certa. Ela
ocupava um espaço especial em meu coração (como amiga), agora extremamente
sensível com a ação do Espírito de Deus e após sua confissão de amor, meu pensamento
e meu instinto de macho se voltaram para ela. Resolver aquela situação estava
acima de minhas possibilidades. Então me lembrei da profecia que havia ouvido
na igreja. Será que Deus estava se referindo a ela? Será que a mulher que não
conseguia enxergar era ela? Perguntas diversas aguilhoaram minha mente, aquele
mistério todo me atraia, mas daí a ter um relacionamento com o intuito de casar
tinha uma distancia muito grande. Ela tinha uma beleza interior, maior do que
já tinha visto em qualquer mulher em toda a minha vida. Exteriormente falando,
agora eu a observava, não como amiga, mas como mulher e me agradou muito, mas
daí a namorar, noivar, casar, viver juntos, precisava algo mais, precisava
amor.
Resolvi enfrentar a
situação. Lutar com meu código de honra, tentar esquecer que ela era minha
amiga, me aproximar, se havia alguma chance de que ela era a mulher que Deus
preparou para viver comigo toda a vida eu teria que ter certeza. Comecei a
namorar, mas nunca dizia a ela que a amava, ela percebia e ficava triste. Eu só
diria isso quando tivesse certeza, daí então comecei a buscar de Deus uma
confirmação. Aí Ele entrou na história com sua providência. Levou-me para o
lado espiritual e através de sua palavra começou a falar comigo. Confirmava com
sonhos, profecias, revelações, etc. Mostrou-me que o verdadeiro parâmetro para
um casal de noivos estava na bíblia sagrada, na figura da igreja e Dele mesmo,
Jesus. Sabendo disso passei a comparar a vida da Eunice com os aspectos
espirituais da igreja e minha vida com os aspectos espirituais Dele. Grande
surpresa... Ela tinha todas as qualidades para casar, ser uma boa esposa e
viver para sempre com um homem, mas eu... Meu Deus! Estava longe muito longe,
muito aquém dos parâmetros bíblicos de um noivo ideal. Em outras palavras ela
era digna de um verdadeiro casamento, mas eu, para casar com ela eu teria que
melhorar muito... Que surpresa terrível e desagradável... A verdade dói.
Quase toda a igreja se
levantou para nos separar. Não acreditavam que uma moça como ela seria feliz
com um homem experimentado e com um passado atribulado como o meu. Chegavam a
lhe dizer que ela comeria o pão que o Diabo amassou ao meu lado. Até os
espíritos imundos tentaram nos separar. Passamos a enfrentar uma batalha
espiritual realmente impressionante. Mas a proporção em que todos se levantavam
para lutar pelo fim de nosso namoro, se levantou também o Senhor para falar,
mostrar, esclarecer que era ela. Incrível não é? Era ela! Era ela a pessoa que
Deus preparou para casar e viver a vida inteira comigo. Confirmação do próprio
Jesus.
Confesso que fiquei
aturdido, meu sangue fervia, com os acontecimentos. Ao mesmo tempo em que descobria
a pessoa ideal para construir um lar, uma família, tinha que enfrentar uma
oposição acirrada, não só das trevas, mas também dos próprios irmãos na fé, o
povo de minha própria igreja não acreditava no poder transformador de Cristo.
Um dia ela estava pregando na igreja[2]
e a glória de Deus tomou conta dela. Seu corpo começou a brilhar de e eu a via
como um anjo. “Meu Deus, como ela é linda, como é que nunca vi isso antes, ela
brilha com a luz e o poder da sua glória, é Maravilhosa. Agora estou enxergando,
agora sei do que o Senhor estava falando, meu Deus como eu pude ser tão cego.
Realmente não entendo nada de mulher. Meu Deus!...”:
Naquela
noite um sentimento novo, grande, forte, brotou em meu coração, eu estava
realmente amando, não via a hora do culto acabar. Contar pra ela do meu amor,
pedi-la em casamento. Estava “fissurado”, enlouquecido. Aquele sentimento,
nascido num repente, me dopou os sentimentos, minha mente. Não via mais uma
amiga, via uma mulher, a mulher dos meus sonhos, que me amava e que seria
minha. Eu a queria e tinha intenção de resolver tudo imediatamente, afinal de
contas, já estava na igreja há três anos, sendo pressionado por intensa
opressão maligna e entendi que chegara a hora de alcançar a benevolência do
Senhor (Aquele que encontra uma esposa,
acha o bem, e alcança a benevolência do SENHOR. Provérbios 18: 22).
O culto demorou uma
eternidade. Na saída puxei-a pelas mãos. Ela era muito popular, dava atenção a
todo mundo, mas hoje não queria dividi-la com ninguém. Afastamos-nos da
multidão, confessei apaixonadamente que a amava. Estava tão impetuoso, tão
empolgado, tão envolvido como um colegial apaixonado. Quis marcar uma data para
casar, aí ela me deu um basta...
- Você nem perguntou se eu
quero me casar com você!
Ela sabia que Deus havia me
entregue em suas mãos. Aproveitou, fez charminho, me apavorou, mas não pode ir
muito longe porque ela também era uma feliz vítima daquele amor.
Não dá para descrever como
eu amo essa mulher. A primeira e última amiga que entrou em minha vida íntima
como mulher e esposa. Não dá para comparar o prazer sexual com amor, do prazer
sexual sem amor que eu tinha no passado. A intensidade, a saciedade, o
deleite... Meu Deus... Que diferença. Sei que muitos correm atrás do prazer
como corri. Sei que muitos vivem situação semelhante a que vivi e quero deixar
bem claro, que Deus se preocupa sim com nossa vida amorosa, com nosso cônjuge,
porque a igreja é formada por famílias, que bem estruturadas produzem frutos e
o fruto permanece, glorificando seu grande nome.
Sim eu prestaria contas de
minhas idas e vindas a ela, faria tudo que ela quisesse para ser feliz ao seu
lado, acima dela somente Aquele que me deu tão lindo e gracioso amor.
Nesses vinte e um anos
juntos, tenho confirmado que a mão de Deus está em nosso casamento e em nossa
família e tenho sido tão feliz, que se pudesse voltar atrás, voltaria e faria
tudo de novo, da mesma maneira que fiz antes. Amo minha esposa, amo minhas
filhas, amo minha família e sou extremamente feliz com a benção que o Senhor me
deu, mesmo sem merecer, por isso sou uma alma agradecida.
[1] Por isso
deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa
carne. Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja.
Assim também vós, cada um em particular, ame a sua própria mulher como a si
mesmo, e a mulher reverencie o marido. Ef 5. 31–33.
[2]
Deus deu-lhe uma unção tão especial que ela pregava chorando e concomitantemente
toda a igreja chorava junto. Sempre admirei essa peculiaridade de Deus com
minha esposa.
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