quinta-feira, 31 de maio de 2012

TESTEMUNHO - CAPÍTULO 16


CAPÍTULO 16

CASAMENTO NO SENHOR

            - Posso saber onde você estava?

- Por aí.

Eu era perito em dar respostas evasivas. Durante muitos anos tinha agido de maneira semelhante com minha mãe, e por incrível que pareça a situação voltava a se repetir mais cedo do que poderia imaginar.

            - O que estava fazendo?

- Conversando com os amigos.

Sabia qual o rumo que a conversa iria tomar. Pensei comigo mesmo. “Como as mulheres são possessivas. Meu Deus! Já assisti a esse filme antes, ela está fazendo igualzinha minha mãe”. Ela continuaria bisbilhotando e logo eu lhe perguntaria se ela é da polícia e viraria o jogo a meu favor, já estava a acostumado a fazer isso com minha mãe, por que não faria de novo.

- Com quem você estava?

- Escuta você é da polícia?

- NÃO SOU DA POLÍCIA NÃO, MAS SOU SUA ESPOSA. E VOCÊ FEZ UM MONTE DE PROMESSAS PARA MIM EM FRENTE A UM GRANDE NÚMERO DE TESTEMUNHAS E DIANTE DO ALTAR DO SENHOR QUE CRIOU O CÉU E A TERRA, E AGORA EU PEÇO SATISFAÇÃO A VOCÊ COMO SUA METADE E VOCÊ ME PERGUNTA SE EU SOU DA POLÍCIA?! – falou elevando o tom da voz com autoridade.

Por essa não esperava. Olhei para ela atônito. Lembrei a entrada na igreja. Seu pai a trazia como um presente de Deus para minha vida. Abri a faixa que separava sua vida de compromissos com seu pai e sua antiga vida de solteira e me liguei a ela diante do Senhor e de toda a sua igreja. Foi um lindo episódio em nossas vidas. Lembro-me perfeitamente de trazê-la diante do altar de Deus onde se encontrava o Pastor Luiz Aniceto, homem de Deus extremamente conhecido em toda a região do Litoral. Suas palavras de conselho. Um cerimonial cheio de convidados, festas e fotos. Muitas fotos. Foi lindo.

- Vai aprendendo, de agora em diante você vai ter que me dar satisfação sim, assim como eu terei que dar satisfação a você, como sua esposa e sua metade.  Amo você, e não vou ficar aqui preocupada, imaginando onde você possa estar, enquanto você passeia sossegado e tranqüilo pela cidade, conversando com seus amiguinhos!

“Meu Deus, que fora” – pensei. Ela tinha toda razão. Teria que me adequar a essa nova situação. Realmente segundo a palavra de Deus agora, éramos um e para que isso acontecesse na prática teríamos que ceder a metade. Deus já tinha me falado a esse respeito pela palavra que existia um mistério a ser desvendado na vida conjugal[1]. Acredito até que Ele já antevia a “chicotada” que eu iria levar e me preparou para ela. Se os dois não cedessem cada um sua metade, um anularia o outro e o casamento naufragaria. Já estava ciente e cedi.

- Ok, perdoe-me, estou errado. Prometo que desde esse dia darei satisfação a você de todos os lugares onde for.

Saí meio jururu, vi sua ira momentânea se desvanecer, me acomodei em um canto da casa e fiquei a pensar no assunto.

Durante dois anos aproximadamente, após minha conversão, pedi ao Senhor uma solução para meu problema porque havia acostumado no meio do mundo de iniqüidade a satisfazer todos os anseios da carne. Agora em meio a tantas ovelhinhas saudáveis, em terra seca e com uma ‘sede tremenda’ precisava encontrar com urgência a costela preparada para mim. Porém tinha ciência que teria que viver com ela durante toda a vida. Sabia que precisava escolher a pessoa certa para casar e meu tempo havia se passado na balada da vida, sem que eu conseguisse resolver esse problema, por isso precisava do aval de Deus para escolher a pessoa certa e silenciosamente orei a Deus pedindo sua ajuda.

Algum tempo depois o Senhor me transmitiu a seguinte mensagem através de um vaso:

- Servo, sua futura esposa está em sua frente, você olha para ela e não a vê. Fala com ela e não sabe.

Aquilo caiu sobre mim como uma bomba. Havia passado grande parte da vida envolvido com mulheres. Virei, segundo minha própria visão, um caçador, e agora Ele, o Senhor e Salvador de minha vida, dizia que eu não tinha competência para distinguir a mulher ideal para partilhar meu futuro. Fiquei ofendido. Ele ignorou.

- Mas vou emprestar os meus olhos para que você veja.

Agora me senti realmente ofendido. Ele, o Deus que comprou minha alma por um preço muito caro, que me livrou das garras dos demônios, a única pessoa com quem tenho uma dívida impagável, estava me chamando de cego. Mas não podia, não queria, não iria jamais reagir com falta de educação com Ele. Por isso contendo minhas palavras, por que em nossas conversas, nunca abro minha boca, pensei:

“Hoje o Senhor é a pessoa que mais respeito em minha vida, mas de mulher eu entendo, como o Senhor vem me chamar de cego? Pois bem, quero que o Senhor me empreste ‘seus olhos’, quero ver com ‘esses seus olhos’” – falei disfarçando a irritação.

Saí daquele culto de oração com um enigma na cabeça. “De que olhos Ele está falando. De quem Ele está falando”. Normalmente eu sempre me perguntava se essas coisas aconteciam com os outros, hoje sei que cada cristão tem sua própria experiência com Deus e nunca as experiências são iguais, até porque não somos iguais e Deus não age de forma padronizada. Não demorou muito para tudo fosse revelado. Recebi uma cartinha anônima de alguém da igreja e fui conversar com a Eunice, para perguntar a ela se ela tinha idéia de quem era a letra, afinal desde que havia me convertido ela passou a ser minha amiga mais próxima, e me ajudava em todas as ocasiões. Nossa conversa pendeu para assuntos íntimos e surpreendido ouvi uma confissão amorosa dos lábios dela. Não fora ela quem havia escrito a carta, mas a carta foi o veículo que conduziu sua confissão amorosa. Agora eu estava perplexo, durante toda minha vida na balada eu tinha criado um código de honra meio esdrúxulo, em que jamais tocaria em uma mulher que fosse minha amiga. De repente fico sabendo que minha melhor amiga, evangélica, e minha irmã espiritual estava apaixonada por mim, que ela me olhava, não somente como amigo, mas como homem, como um futuro namorado, noivo ou até marido. Com uma situação inesperada, com uma barreira dessas para transpor, sem amor propriamente dito, não havia a menor chance de acontecer algo entre nós, mas aquilo tomou conta de meus pensamentos de forma inusitada. Nunca havia tocado em uma amiga, será que conseguiria? Daria certo? Conseguiria eu vencer meu próprio código de honra?

Uma coisa era certa. Ela ocupava um espaço especial em meu coração (como amiga), agora extremamente sensível com a ação do Espírito de Deus e após sua confissão de amor, meu pensamento e meu instinto de macho se voltaram para ela. Resolver aquela situação estava acima de minhas possibilidades. Então me lembrei da profecia que havia ouvido na igreja. Será que Deus estava se referindo a ela? Será que a mulher que não conseguia enxergar era ela? Perguntas diversas aguilhoaram minha mente, aquele mistério todo me atraia, mas daí a ter um relacionamento com o intuito de casar tinha uma distancia muito grande. Ela tinha uma beleza interior, maior do que já tinha visto em qualquer mulher em toda a minha vida. Exteriormente falando, agora eu a observava, não como amiga, mas como mulher e me agradou muito, mas daí a namorar, noivar, casar, viver juntos, precisava algo mais, precisava amor.

Resolvi enfrentar a situação. Lutar com meu código de honra, tentar esquecer que ela era minha amiga, me aproximar, se havia alguma chance de que ela era a mulher que Deus preparou para viver comigo toda a vida eu teria que ter certeza. Comecei a namorar, mas nunca dizia a ela que a amava, ela percebia e ficava triste. Eu só diria isso quando tivesse certeza, daí então comecei a buscar de Deus uma confirmação. Aí Ele entrou na história com sua providência. Levou-me para o lado espiritual e através de sua palavra começou a falar comigo. Confirmava com sonhos, profecias, revelações, etc. Mostrou-me que o verdadeiro parâmetro para um casal de noivos estava na bíblia sagrada, na figura da igreja e Dele mesmo, Jesus. Sabendo disso passei a comparar a vida da Eunice com os aspectos espirituais da igreja e minha vida com os aspectos espirituais Dele. Grande surpresa... Ela tinha todas as qualidades para casar, ser uma boa esposa e viver para sempre com um homem, mas eu... Meu Deus! Estava longe muito longe, muito aquém dos parâmetros bíblicos de um noivo ideal. Em outras palavras ela era digna de um verdadeiro casamento, mas eu, para casar com ela eu teria que melhorar muito... Que surpresa terrível e desagradável... A verdade dói.

Quase toda a igreja se levantou para nos separar. Não acreditavam que uma moça como ela seria feliz com um homem experimentado e com um passado atribulado como o meu. Chegavam a lhe dizer que ela comeria o pão que o Diabo amassou ao meu lado. Até os espíritos imundos tentaram nos separar. Passamos a enfrentar uma batalha espiritual realmente impressionante. Mas a proporção em que todos se levantavam para lutar pelo fim de nosso namoro, se levantou também o Senhor para falar, mostrar, esclarecer que era ela. Incrível não é? Era ela! Era ela a pessoa que Deus preparou para casar e viver a vida inteira comigo. Confirmação do próprio Jesus.

Confesso que fiquei aturdido, meu sangue fervia, com os acontecimentos. Ao mesmo tempo em que descobria a pessoa ideal para construir um lar, uma família, tinha que enfrentar uma oposição acirrada, não só das trevas, mas também dos próprios irmãos na fé, o povo de minha própria igreja não acreditava no poder transformador de Cristo. Um dia ela estava pregando na igreja[2] e a glória de Deus tomou conta dela. Seu corpo começou a brilhar de e eu a via como um anjo. “Meu Deus, como ela é linda, como é que nunca vi isso antes, ela brilha com a luz e o poder da sua glória, é Maravilhosa. Agora estou enxergando, agora sei do que o Senhor estava falando, meu Deus como eu pude ser tão cego. Realmente não entendo nada de mulher. Meu Deus!...”:

Naquela noite um sentimento novo, grande, forte, brotou em meu coração, eu estava realmente amando, não via a hora do culto acabar. Contar pra ela do meu amor, pedi-la em casamento. Estava “fissurado”, enlouquecido. Aquele sentimento, nascido num repente, me dopou os sentimentos, minha mente. Não via mais uma amiga, via uma mulher, a mulher dos meus sonhos, que me amava e que seria minha. Eu a queria e tinha intenção de resolver tudo imediatamente, afinal de contas, já estava na igreja há três anos, sendo pressionado por intensa opressão maligna e entendi que chegara a hora de alcançar a benevolência do Senhor (Aquele que encontra uma esposa, acha o bem, e alcança a benevolência do SENHOR. Provérbios 18: 22).

O culto demorou uma eternidade. Na saída puxei-a pelas mãos. Ela era muito popular, dava atenção a todo mundo, mas hoje não queria dividi-la com ninguém. Afastamos-nos da multidão, confessei apaixonadamente que a amava. Estava tão impetuoso, tão empolgado, tão envolvido como um colegial apaixonado. Quis marcar uma data para casar, aí ela me deu um basta...

- Você nem perguntou se eu quero me casar com você!

Ela sabia que Deus havia me entregue em suas mãos. Aproveitou, fez charminho, me apavorou, mas não pode ir muito longe porque ela também era uma feliz vítima daquele amor.

Não dá para descrever como eu amo essa mulher. A primeira e última amiga que entrou em minha vida íntima como mulher e esposa. Não dá para comparar o prazer sexual com amor, do prazer sexual sem amor que eu tinha no passado. A intensidade, a saciedade, o deleite... Meu Deus... Que diferença. Sei que muitos correm atrás do prazer como corri. Sei que muitos vivem situação semelhante a que vivi e quero deixar bem claro, que Deus se preocupa sim com nossa vida amorosa, com nosso cônjuge, porque a igreja é formada por famílias, que bem estruturadas produzem frutos e o fruto permanece, glorificando seu grande nome.

Sim eu prestaria contas de minhas idas e vindas a ela, faria tudo que ela quisesse para ser feliz ao seu lado, acima dela somente Aquele que me deu tão lindo e gracioso amor.

Nesses vinte e um anos juntos, tenho confirmado que a mão de Deus está em nosso casamento e em nossa família e tenho sido tão feliz, que se pudesse voltar atrás, voltaria e faria tudo de novo, da mesma maneira que fiz antes. Amo minha esposa, amo minhas filhas, amo minha família e sou extremamente feliz com a benção que o Senhor me deu, mesmo sem merecer, por isso sou uma alma agradecida.



[1] Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne. Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja. Assim também vós, cada um em particular, ame a sua própria mulher como a si mesmo, e a mulher reverencie o marido. Ef 5. 31–33.

[2] Deus deu-lhe uma unção tão especial que ela pregava chorando e concomitantemente toda a igreja chorava junto. Sempre admirei essa peculiaridade de Deus com minha esposa.

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