FUTEBOL X IGREJA
Estávamos amontoados em uma
Kombi, brincávamos muito, a gozação se voltava para o primeiro que cometia uma
gafe, todos estavam alegres, nossa viagem terminaria na cidade vizinha, onde
atualmente eu moro, aí então começaria o grande jogo. Mais uma vez enfrentaríamos
o “dente de leite” do XV de Novembro de Caraguatatuba e em nossos embates,
comumente saíamos ganhando. O time do “Tio Ciro” era conhecido, os personagens
todos eram conhecidos por apelidos: Ratinho, Nenê, Valdemar, Suca, Tico[1],
Pico, etc.
Treinávamos todas as manhãs
de domingo no campo de futebol do Perequê-Açu em Ubatuba e aquela era a minha
paixão, porém o treino sempre acontecia justamente no horário da escola dominical
e com certeza, a alegria e o prazer de brincar e jogar com meus amigos era bem
superior ao prazer de estar na igreja, estudando e buscando um Deus, que nem ao
menos conhecia. À medida que o tempo e meu comprometimento com o time
aumentavam, arrefecia meu ânimo de continuar freqüentando a escola dominical,
que era a principal atividade da Igreja Presbiteriana Independente de Ubatuba
para crianças.
Eu estava com cerca de oito
ou nove anos, minha paixão era o futebol, e proporcionalmente a minha entrada
no mundo fascinante da bola, acontecia a minha saída da escola dominical e das
atividades da igreja. Um processo de distanciamento entre Deus e eu, começou a
acontecer, e, concomitantemente acontecia também o distanciamento do
cumprimento da promessa ou entrega, que meu pai havia feito ao Senhor em minha
tenra infância. Meu envolvimento com o futebol foi crescente até chegar o ponto
de não aparecer mais na igreja e se desviar completamente dos caminhos do
Senhor, e, dos propósitos que meu pai tinha para minha vida. Minha mãe que era
católica e não se preocupava nem um pouco com nossa situação espiritual, criava
um fator complicador para meu pai, porque ela sempre nos defendia, quando
queríamos nos esquivar da obrigatoriedade de freqüentar os cultos e com certeza
foi uma pedra no sapato dele, que viu toda a sua numerosa família, se afastando
da igreja e caindo de cabeça em uma vida desregrada, seguindo a direção do
mundo de iniqüidade e de transgressões contra Deus, mundo este, que nos rodeia
com o intuito de nos tragar e nos conduzir a destruição.
Daí até os quinze anos
minha atenção ficaria voltada para o futebol e posteriormente seria despertada
para as meninas, com o aparecimento em minha vida da primeira namorada e a
freqüência prematura a bailes e boates, pouca coisa aconteceria de marcante em
meu intercâmbio com Deus e minha trajetória de distanciamento se ampliava. Meu
coração estava ficando endurecido. Deus era alguém distante de meu mundo, um
personagem quase folclórico e a possibilidade de um retrocesso era algo inimaginável.
A teoria da evolução, muito em voga nessa época, era uma fuga bastante utilizada
para tentar convencer a mim mesmo, que Deus não existia e que seu livro não correspondia
à verdade. Quando queremos nos afastar de Deus procuramos explicações que
primeiro convençam nosso próprio eu, e isso é uma constante entre pessoas que
estão distantes de Deus. Hoje sempre encontro pessoas, que como eu, buscam
explicações para subsidiar seu próprio ego, mas isso não leva a nenhum caminho bom,
pois o único caminho é Cristo “Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a
verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” (Jó 14.6).
Concomitantemente ao meu
afastamento da igreja, meus irmãos viviam a mesma síndrome, até que meu pai viu
praticamente todos os seus filhos saírem da igreja e tomarem o rumo que ele nunca
premeditou. Conversando com ele antes de seu falecimento, fiquei sabendo que
ele teimou em casar com minha mãe, que não era crente, acreditando em sua
promessa de que seguiria a fé, mas, ledo engano é acreditar que um ser humano,
sem conhecer a graça de Deus possa cumprir uma promessa dessas, pois teria que
enfrentar todo o poder das trevas para assim o fazer. Por fim, vendo que todos
os seus filhos estavam se desviando, passou a atravessar o aeroporto onde
morava e trabalhava, e, todos os dias no meio do mato, onde fez uma pequena
chácara e plantava árvores frutíferas para nosso consumo, falava com Deus,
pedindo perdão pelo seu erro e clamando misericórdia sobre a vida de seus filhos.
Sua oração era mais ou menos assim:
- Deus, pequei porque sabia
que não havia comunhão entre a luz e as trevas e mesmo assim casei com uma
mulher que não era cristã. Agora todos os meus filhos estão no caminho de
perdição. Todos estão a caminho do inferno. Peço-te perdão pelo meu pecado e
clamo sua misericórdia sobre meus filhos, pois fui eu quem pecou, mas são eles
que estão sendo penalizados. Por favor, Senhor, salva meus filhos.
Orou
cerca de trinta anos até começar a ver os efeitos, mas com certeza Deus ouviu
sua oração, pois de forma natural ou sobrenatural começou a trazer de volta as
ovelhas desgarradas, nesse caso sua família. Seria muito extenso narrar todos
os acontecimentos que envolveram a salvação desta numerosa família. Os testemunhos
que existem dentro da família são diferentes, impressionantes e sobrenaturais e
todos mostram a glória e a benignidade deste Deus, que perdoa e esquece de todo
o pecado. Quando meu pai faleceu com noventa e dois anos, sua família tinha
mais de cem pessoas entre filhos, filhas, genros, noras, netos, bisnetos, etc.,
e cerca de três quartos, já estavam convertidos, já haviam voltado ao aprisco
do Senhor. Mais de setenta e cinco por cento da família, eram convertidos e
cada um tinha uma história de conversão mais incrível do que a outra. Posso
afirmar sem medo de errar, que ele consagrou ao trabalho do Senhor e deu seu
nome a um filho, mas, Deus resolveu ficar com todos, pois grande parte da
família trabalha e produz bênçãos na seara do Senhor e acredito que o processo
de conversão de toda a família continuará indefinidamente, apesar do
falecimento de meu pai. Hoje na família temos pastores, presbíteros, diáconos,
cooperadores e provavelmente o processo vai continuar, com grande acréscimo de
trabalhadores por amor a Cristo e a sua obra. Com isso afirmo com toda
convicção, que o Senhor perdoou meu pai, ouviu e atendeu suas preces e os
resultados se fazem presentes no meio de sua prole.
[1]
Esse apelido recebi desde a infância devido minha baixa estatura. Mesmo hoje,
já adulto, muitos irmãos da igreja me conhecem por irmão Tico.
Deus é Fiel! O que ele promete ele cumpre! Creio que ainda por muito tempo veremos brotar os frutos das orações de seu pai... Deus abençoe a todos!
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