terça-feira, 15 de maio de 2012

TESTEMUNHO - CAPÍTULO 2


FUTEBOL X IGREJA

Estávamos amontoados em uma Kombi, brincávamos muito, a gozação se voltava para o primeiro que cometia uma gafe, todos estavam alegres, nossa viagem terminaria na cidade vizinha, onde atualmente eu moro, aí então começaria o grande jogo. Mais uma vez enfrentaríamos o “dente de leite” do XV de Novembro de Caraguatatuba e em nossos embates, comumente saíamos ganhando. O time do “Tio Ciro” era conhecido, os personagens todos eram conhecidos por apelidos: Ratinho, Nenê, Valdemar, Suca, Tico[1], Pico, etc.

Treinávamos todas as manhãs de domingo no campo de futebol do Perequê-Açu em Ubatuba e aquela era a minha paixão, porém o treino sempre acontecia justamente no horário da escola dominical e com certeza, a alegria e o prazer de brincar e jogar com meus amigos era bem superior ao prazer de estar na igreja, estudando e buscando um Deus, que nem ao menos conhecia. À medida que o tempo e meu comprometimento com o time aumentavam, arrefecia meu ânimo de continuar freqüentando a escola dominical, que era a principal atividade da Igreja Presbiteriana Independente de Ubatuba para crianças.

Eu estava com cerca de oito ou nove anos, minha paixão era o futebol, e proporcionalmente a minha entrada no mundo fascinante da bola, acontecia a minha saída da escola dominical e das atividades da igreja. Um processo de distanciamento entre Deus e eu, começou a acontecer, e, concomitantemente acontecia também o distanciamento do cumprimento da promessa ou entrega, que meu pai havia feito ao Senhor em minha tenra infância. Meu envolvimento com o futebol foi crescente até chegar o ponto de não aparecer mais na igreja e se desviar completamente dos caminhos do Senhor, e, dos propósitos que meu pai tinha para minha vida. Minha mãe que era católica e não se preocupava nem um pouco com nossa situação espiritual, criava um fator complicador para meu pai, porque ela sempre nos defendia, quando queríamos nos esquivar da obrigatoriedade de freqüentar os cultos e com certeza foi uma pedra no sapato dele, que viu toda a sua numerosa família, se afastando da igreja e caindo de cabeça em uma vida desregrada, seguindo a direção do mundo de iniqüidade e de transgressões contra Deus, mundo este, que nos rodeia com o intuito de nos tragar e nos conduzir a destruição.

Daí até os quinze anos minha atenção ficaria voltada para o futebol e posteriormente seria despertada para as meninas, com o aparecimento em minha vida da primeira namorada e a freqüência prematura a bailes e boates, pouca coisa aconteceria de marcante em meu intercâmbio com Deus e minha trajetória de distanciamento se ampliava. Meu coração estava ficando endurecido. Deus era alguém distante de meu mundo, um personagem quase folclórico e a possibilidade de um retrocesso era algo inimaginável. A teoria da evolução, muito em voga nessa época, era uma fuga bastante utilizada para tentar convencer a mim mesmo, que Deus não existia e que seu livro não correspondia à verdade. Quando queremos nos afastar de Deus procuramos explicações que primeiro convençam nosso próprio eu, e isso é uma constante entre pessoas que estão distantes de Deus. Hoje sempre encontro pessoas, que como eu, buscam explicações para subsidiar seu próprio ego, mas isso não leva a nenhum caminho bom, pois o único caminho é Cristo “Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” (Jó 14.6).

Concomitantemente ao meu afastamento da igreja, meus irmãos viviam a mesma síndrome, até que meu pai viu praticamente todos os seus filhos saírem da igreja e tomarem o rumo que ele nunca premeditou. Conversando com ele antes de seu falecimento, fiquei sabendo que ele teimou em casar com minha mãe, que não era crente, acreditando em sua promessa de que seguiria a fé, mas, ledo engano é acreditar que um ser humano, sem conhecer a graça de Deus possa cumprir uma promessa dessas, pois teria que enfrentar todo o poder das trevas para assim o fazer. Por fim, vendo que todos os seus filhos estavam se desviando, passou a atravessar o aeroporto onde morava e trabalhava, e, todos os dias no meio do mato, onde fez uma pequena chácara e plantava árvores frutíferas para nosso consumo, falava com Deus, pedindo perdão pelo seu erro e clamando misericórdia sobre a vida de seus filhos. Sua oração era mais ou menos assim:

- Deus, pequei porque sabia que não havia comunhão entre a luz e as trevas e mesmo assim casei com uma mulher que não era cristã. Agora todos os meus filhos estão no caminho de perdição. Todos estão a caminho do inferno. Peço-te perdão pelo meu pecado e clamo sua misericórdia sobre meus filhos, pois fui eu quem pecou, mas são eles que estão sendo penalizados. Por favor, Senhor, salva meus filhos.

             Orou cerca de trinta anos até começar a ver os efeitos, mas com certeza Deus ouviu sua oração, pois de forma natural ou sobrenatural começou a trazer de volta as ovelhas desgarradas, nesse caso sua família. Seria muito extenso narrar todos os acontecimentos que envolveram a salvação desta numerosa família. Os testemunhos que existem dentro da família são diferentes, impressionantes e sobrenaturais e todos mostram a glória e a benignidade deste Deus, que perdoa e esquece de todo o pecado. Quando meu pai faleceu com noventa e dois anos, sua família tinha mais de cem pessoas entre filhos, filhas, genros, noras, netos, bisnetos, etc., e cerca de três quartos, já estavam convertidos, já haviam voltado ao aprisco do Senhor. Mais de setenta e cinco por cento da família, eram convertidos e cada um tinha uma história de conversão mais incrível do que a outra. Posso afirmar sem medo de errar, que ele consagrou ao trabalho do Senhor e deu seu nome a um filho, mas, Deus resolveu ficar com todos, pois grande parte da família trabalha e produz bênçãos na seara do Senhor e acredito que o processo de conversão de toda a família continuará indefinidamente, apesar do falecimento de meu pai. Hoje na família temos pastores, presbíteros, diáconos, cooperadores e provavelmente o processo vai continuar, com grande acréscimo de trabalhadores por amor a Cristo e a sua obra. Com isso afirmo com toda convicção, que o Senhor perdoou meu pai, ouviu e atendeu suas preces e os resultados se fazem presentes no meio de sua prole.



[1] Esse apelido recebi desde a infância devido minha baixa estatura. Mesmo hoje, já adulto, muitos irmãos da igreja me conhecem por irmão Tico.

Um comentário:

  1. Deus é Fiel! O que ele promete ele cumpre! Creio que ainda por muito tempo veremos brotar os frutos das orações de seu pai... Deus abençoe a todos!

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