PARAÍSO MALIGNO
- Tico o que você pretende fazer hoje à noite?
-
Não tenho nada programado, por quê?
-
Porque quero te levar para um passeio no centro, vamos?
-
Ok!
Combinamos
hora e lugar e o Ricardo insistiu que eu vestisse a melhor roupa propícia à
boate. Assim foi, vesti uma roupa que produzia um brilho especial nas luzes
noturnas, afinal minha experiência no litoral, me supria do conhecimento
necessário para essas ocasiões.
-
Aonde vamos? – perguntei ao entrar em seu Karman Guia (Antigo carro esporte da
VW, com apenas dois lugares).
-
É surpresa! Fique frio!
Estávamos
andando pelo centro, chegamos ao Largo do Arouche e quando dei por mim
estávamos entrando em uma “Boate Top Less”. Eu estava no centro da boca do luxo
paulistana e de cara pude ver meninas dançando seminuas em um balcão. Lindas
sensuais.
-
Que loucura meu! – Eu disse entusiasmado.
Estava
deslumbrado, “era muita areia pro meu caminhãozinho”, me sentia em estado de
êxtase total, sabia que aquela noite prometia, estava disposto a beber o cálice
até a última gota e olha que antevia um cálice de delícias.
-
Vamos escolher uma mesa no Centro do salão. – afirmou ele dirigindo-se para o
local escolhido.
Começamos
a beber, fiquei mais solto, mais empolgado e depois de algum tempo me sentia em
casa. O que eu não sabia, era que Ricardo, que era conhecido por Ricardão na
transportadora onde eu trabalhava[1],
era freqüentador assíduo da “boite”, tinha conhecimento com o pessoal da casa,
tinha poder aquisitivo para bancar noitadas e havia resolvido dar uma iniciação
pervertida ao garoto da praia (ou garoto do interior como eles chamam). Por
isso me trataram como a um rei e entrei de cabeça no negócio. Foi uma noite
marcante para minha vida, dali em diante com certeza, nada me faria voltar.
Acredito que enquanto eu me divertia no mundo material, paralelamente as trevas
se deleitavam, porque me aprisionavam a um estilo de vida que preenche toda as
necessidades carnais de um ser humano, mas desvia completamente sua atenção de
tudo o que é espiritual. E, mais tarde, se por ventura ele cair em si e resolver
voltar, cadeias de prazeres carnais, somado a todo o império das trevas, o
amarram, e, quem poderá livrar essa pobre criatura? Só Jesus tem esse poder.
Ele
me levou algumas vezes, até eu viciar a freqüentar o lugar, depois passei a
freqüentar por minha própria conta e risco. Daí em diante tudo o que ganhava,
tudo o que podia obter em dinheiro, empregava na balada, na noite, na orgia.
É
incrível como a vida desregrada consome nossas energias e nosso dinheiro. Às
vezes subia até o escritório da transportadora, onde trabalhava, para receber o
pagamento e só recebia papéis dos vales que havia assinado, então só me restava
fazer outro vale e reiniciar um ciclo que duraria muitos anos, sem nada comprar
e sem nada ter.
A
partir dali andei por todo o Litoral, Vale do Paraíba, Sul de Minas e São
Paulo, lógico, atrás do prazer e não conseguia enxergar, que havia descoberto o
paraíso do sexo, que preenche todos os prazeres da carne, mas não satisfaz o
Espírito do homem. Normalmente recebia o pagamento e gastava com uma rapidez
extraordinária. Cheguei a receber em uma sexta, viajar e posteriormente ter que
pedir dinheiro emprestado para voltar para casa na segunda, tal a vida
desregrada que levava. Em um fim de semana, gastava o dinheiro de um mês de
trabalho. Estava fora de controle. É lógico que com isso jamais consegui ter
nada, exceto um fusquinha que comprei com muita dificuldade, porque economizar
era palavra pouco utilizada nessa fase de minha vida. Não conseguia enxergar
ainda, que acabara de descobrir um paraíso terreno, que não preencheria jamais
meu espírito e minha alma e que não conduziria a nenhum tipo de prosperidade,
mas dou graças a Deus, por isso, porque me deu subsídios para valorizar tudo o
que o Senhor me proporcionou em outro momento de minha vida.
[1]
Hoje sou professor da rede pública, porém até chegar a esse ponto trabalhei em
vários serviços: bicicletaria, bar, lanchonete, transportadora, IBGE, etc. E
nesse período estava trabalhando em uma transportadora em São Paulo.
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