sexta-feira, 18 de maio de 2012

TESTEMUNHO - CAPÍTULO 5


PARAÍSO MALIGNO

            - Tico o que você pretende fazer hoje à noite?

- Não tenho nada programado, por quê?

- Porque quero te levar para um passeio no centro, vamos?

- Ok!

Combinamos hora e lugar e o Ricardo insistiu que eu vestisse a melhor roupa propícia à boate. Assim foi, vesti uma roupa que produzia um brilho especial nas luzes noturnas, afinal minha experiência no litoral, me supria do conhecimento necessário para essas ocasiões.

- Aonde vamos? – perguntei ao entrar em seu Karman Guia (Antigo carro esporte da VW, com apenas dois lugares).

- É surpresa! Fique frio!

Estávamos andando pelo centro, chegamos ao Largo do Arouche e quando dei por mim estávamos entrando em uma “Boate Top Less”. Eu estava no centro da boca do luxo paulistana e de cara pude ver meninas dançando seminuas em um balcão. Lindas sensuais.

- Que loucura meu! – Eu disse entusiasmado.

Estava deslumbrado, “era muita areia pro meu caminhãozinho”, me sentia em estado de êxtase total, sabia que aquela noite prometia, estava disposto a beber o cálice até a última gota e olha que antevia um cálice de delícias.

- Vamos escolher uma mesa no Centro do salão. – afirmou ele dirigindo-se para o local escolhido.

Começamos a beber, fiquei mais solto, mais empolgado e depois de algum tempo me sentia em casa. O que eu não sabia, era que Ricardo, que era conhecido por Ricardão na transportadora onde eu trabalhava[1], era freqüentador assíduo da “boite”, tinha conhecimento com o pessoal da casa, tinha poder aquisitivo para bancar noitadas e havia resolvido dar uma iniciação pervertida ao garoto da praia (ou garoto do interior como eles chamam). Por isso me trataram como a um rei e entrei de cabeça no negócio. Foi uma noite marcante para minha vida, dali em diante com certeza, nada me faria voltar. Acredito que enquanto eu me divertia no mundo material, paralelamente as trevas se deleitavam, porque me aprisionavam a um estilo de vida que preenche toda as necessidades carnais de um ser humano, mas desvia completamente sua atenção de tudo o que é espiritual. E, mais tarde, se por ventura ele cair em si e resolver voltar, cadeias de prazeres carnais, somado a todo o império das trevas, o amarram, e, quem poderá livrar essa pobre criatura? Só Jesus tem esse poder.

Ele me levou algumas vezes, até eu viciar a freqüentar o lugar, depois passei a freqüentar por minha própria conta e risco. Daí em diante tudo o que ganhava, tudo o que podia obter em dinheiro, empregava na balada, na noite, na orgia.

É incrível como a vida desregrada consome nossas energias e nosso dinheiro. Às vezes subia até o escritório da transportadora, onde trabalhava, para receber o pagamento e só recebia papéis dos vales que havia assinado, então só me restava fazer outro vale e reiniciar um ciclo que duraria muitos anos, sem nada comprar e sem nada ter.

A partir dali andei por todo o Litoral, Vale do Paraíba, Sul de Minas e São Paulo, lógico, atrás do prazer e não conseguia enxergar, que havia descoberto o paraíso do sexo, que preenche todos os prazeres da carne, mas não satisfaz o Espírito do homem. Normalmente recebia o pagamento e gastava com uma rapidez extraordinária. Cheguei a receber em uma sexta, viajar e posteriormente ter que pedir dinheiro emprestado para voltar para casa na segunda, tal a vida desregrada que levava. Em um fim de semana, gastava o dinheiro de um mês de trabalho. Estava fora de controle. É lógico que com isso jamais consegui ter nada, exceto um fusquinha que comprei com muita dificuldade, porque economizar era palavra pouco utilizada nessa fase de minha vida. Não conseguia enxergar ainda, que acabara de descobrir um paraíso terreno, que não preencheria jamais meu espírito e minha alma e que não conduziria a nenhum tipo de prosperidade, mas dou graças a Deus, por isso, porque me deu subsídios para valorizar tudo o que o Senhor me proporcionou em outro momento de minha vida.



[1] Hoje sou professor da rede pública, porém até chegar a esse ponto trabalhei em vários serviços: bicicletaria, bar, lanchonete, transportadora, IBGE, etc. E nesse período estava trabalhando em uma transportadora em São Paulo.

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