quarta-feira, 6 de junho de 2012

TESTEMUNHO - CAPÍTULO 22


CAPÍTULO 22

TRABALHO DIFÍCIL (PROVA DE FÉ).

- Servo vou enviar você a um lugar onde verá coisas novas, como até o momento não viu.

Palavra interessante, realmente interessante. Sabendo que uma palavra como essa vem do Criador e que Ele tem poder para fazer grandes milagres à palavra cai bem aos ouvidos e a imaginação divaga, vendo por antecipação milagres conhecidos através das escrituras ou até mesmo milagres contados nos testemunhos do dia a dia em nossas igrejas.

É impressionante como Deus o Todo Poderoso nos conhece a ponto de aguçar nosso sentido em prol de algum objetivo misterioso a ser alcançado, porém nosso intelecto bastante limitado dificilmente consegue entender os propósitos divinos, a não ser que eles já tenham acontecido e podemos então analisar todos os ângulos das palavras e dos fatos para chegarmos a conclusões realmente concretas e convincentes.

Depois de repetidas promessas de algo novo, recebi uma proposta diferente do irmão Oliveira. Desta vez iríamos para o Piauí, sem agenda definida e faríamos tudo o que Deus mandasse, à medida que fossemos nos aprofundando no interior do estado. Aceitei por que sou meio aventureiro e já estava na expectativa de algo novo acontecer.  Marcamos a data porque tudo tem que ser preparado com antecedência. Normalmente emendo férias escolares com licença prêmio e posso com isso atender minha família, minha igreja local e posteriormente sair em viagens mais longas. Enquanto tudo estava sendo preparado por aqui, a mão de Deus começou a se mover e tudo começou a ser preparado por lá.

Pastor Joaquim, ex-capataz de uma das fazendas do Presbítero Oliveira, após um bom tempo sem dar “sinal de vida”, ligara para “seu” Oliveira pedindo um trabalho do porte que normalmente fazíamos e pasmem... Ele se encontrava em Campo Largo, um lugarejo não muito longe de Teresina, no Piauí. Com certeza daí em diante, o Senhor abriu as portas da palavra, por que recebemos o convite de passar em Teresina, conhecermos o Pastor Presidente e posteriormente iríamos para Campo Largo. Em Campo Largo o Pastor Joaquim ficou encarregado de preparar a Cruzada com um serviço de aproximadamente duas semanas, pregando nas igrejas da circunvizinhança, com a possibilidade de ser ampliado, caso tudo ocorresse a contento.

Impressionante como o Espírito Santo prepara seus planos, armando toda uma estratégia, que de forma inesperada simplesmente acontece, como que unindo elos de uma corrente que aplaina o caminho a ser seguido conforme sua vontade, e, uma sucessão de objetivos delineiam-se no horizonte como que saído do nada. A principio íamos nos aventurar em um estado desconhecido, sem nenhuma perspectiva do que faríamos, onde ficaríamos, e em algum tempo toda uma cruzada estava sendo preparada com sede de controle e mini viagens a partir da sede para as cidades vizinhas. Isso propiciou o aumento do número de participantes incluindo também músico, cantor e até mesmo outro pregador extremamente usado por Deus em situações como essas. Quanta coisa aconteceu a partir do momento em que tomamos a decisão de ir para o Piauí. Agora antevia realmente coisas sobrenaturais, aproveitei até para pedir ao Senhor, que nos desse umas mínimas duzentas almas novas convertidas, em um mês de trabalho, uma parte no Piauí e outra no Tocantins.

Tudo preparado. Partimos. Passar pela Transpiauí, estrada que liga a região Centro-oeste com a Região Nordeste era um verdadeiro desafio, mas tínhamos que fazer um serviço em Goiânia, por isso enfrentamos este desafio. Em um desvio na cidade de Floriano, perdemos o caminho, quase saímos em Picos e levamos um prejuízo de quinhentos quilômetros aproximadamente, na correção de nossa trajetória em direção a Teresina. Isso fez com que o Pastor Joaquim dormisse na rodoviária, fosse assaltado e tivesse que recorrer a Deus para recuperar sua carteira e seu dinheiro. E para glória do Senhor, conseguiu este feito em pouquíssimo espaço de tempo. Chegamos a Teresina, conhecemos o Pastor Presidente, que gostou do nosso projeto de trabalho e seguimos viagem em direção a Campo Largo, onde ficaríamos por duas semanas ou mais se tudo corresse bem.  Dura luta foi acostumar a dormir em redes. No primeiro dia acordei mais cansado do que antes de dormir. Convidaram-me para sair e recusei. Foram ver um projeto do governo para plantação de arroz. Fiquei lutando com as redes, coisa terrível para mim.

Havíamos pregado na noite anterior, mal chegamos e no dia seguinte os irmãos se aproximaram para conversar. Comecei a ouvir bênçãos. O porteiro falava da cura de uma hérnia revelada na noite anterior. Outra irmã disse que não pode vir a igreja porque sua netinha estivera doente durante a noite. Lamentei o fato dizendo que ela perdera a benção, mas ela assegurou que não, por que de sua casa, ela ouviu todo o culto e quando chegou ao momento da oração da fé, ela participou à distância e Jesus curou sua netinha instantaneamente, mas o testemunho inicial que me chamou a atenção foi da esposa do Pastor, que falava da penúria em que se encontravam comendo feijão guandu à cerca de um mês. Curiosamente ela me explicou que o feijão era depositado em um tanque com areia. Todo o dia era separado um quinhão que depois de peneirado, para retirar a areia era consumido. Fiquei pasmado com as condições de vida, que levam alguns irmãos por esse interior do Brasil e estou contando esse fato para estimular a todos que cooperam de alguma maneira com os pobres e necessitados em quaisquer lugares onde estejam. Ela me falou em sua alegria quando chegamos com a caminhonete cheia de roupas e comida. Comecei a partir daí a verificar a dura situação que vive alguns irmãos por esse Brasil a fora e confesso que de todos os lugares onde passei e não foram poucos nesses últimos anos, o que mais me deixou sensibilizado, foi esse estado e a situação difícil em que vive o povo pobre do interior. Já andei pelo vale do Jequitinhonha e conheço sua fama em pobreza, mas essa região do Piauí é tremendamente mais carente, do que qualquer lugar por onde eu já coloquei meus pés.

Comprar com notas “grandes”, R$ 50,00, nesses lugares se torna um transtorno porque o comerciante não tem troco, até mesmo comprar com notas pequenas às vezes pode ser difícil. Quantas vezes telefonei em cabines públicas, e sai com um vale nas mãos porque a telefonista não tinha troco, para cinco ou dez reais. Quantas vezes perdi o dinheiro dos vales, por não poder voltar para receber o troco. É incrível estar em um lugar, possuir dinheiro e às vezes não poder comprar por falta de troco.

Visitei irmãos, orei por enfermos em residências na periferia da cidade, entrei em casas onde não havia sequer uma mesa e os irmãos sentavam em pedaços de troncos que servem como cadeiras e ali conversam e comem com o prato nas mãos. Eles plantam e não tem para quem vender, por isso a sobra é enviada para a igreja onde é distribuída a outros que não tem nada. A renda da igreja, que na época não passava de um salário e meio, tinha que dar para o Pastor, para a igreja, três ou quatro congregações, e todos os pobres da igreja. A possibilidade de tratamento médico em alguns casos é nenhum, por isso orávamos por qualquer doença em qualquer circunstância e em qualquer lugar e Deus curava indiscriminadamente. Impressionante como Deus responde atendendo a necessidade, como um bálsamo, como uma brisa suave, aliviando sofrimentos de um povo que vive uma vida rude e difícil. Não é a toa que grandes clássicos brasileiros foram escritos mostrando a rudeza da vida no interior do nordeste brasileiro. Agora estava começando a entender o que Deus me prometera ver. Não era bem o que imaginara, ou o que queria ver, mas sim o que ele em sua onipotência resolvera mostrar.

Quando começamos um ministério itinerante sonhamos em ser um pregador conhecido e alcançar multidões, nem sempre acontece como imaginamos, alguém tem que ir mais fundo, chegar ao âmago da pobreza e da necessidade e arrancar almas que sofrem, da mão do inimigo. Alguém precisa ver a realidade e falar dela para despertar e atrair outros que somados e unidos formem um grupo de apoio e de socorro que alcancem, auxiliem e supram necessidades de um povo que precisa ser alcançado pelo evangelho. Ver tudo isto para mim era estarrecedor.

Mais estarrecedor foi verificar que em alguns casos Deus revelava doenças em pecadores e condicionava[1] a aceitarem Jesus como salvador e as pessoas diziam não. Lembro-me de uma senhora que havia sido abandonada pelo marido e foi revelada na igreja. O Espírito Santo mandou condicionar a restauração da família e de toda a sua felicidade, à aceitação de Cristo e ouvimos um sonoro não. O Pastor da igreja me chamou em canto e me contou que ela estava morando em sua casa de favor e não queria aceitar Jesus, porque seu marido não gostava de crente. Indignado protestei dizendo que Deus estava prometendo a restauração de toda a família, mas mesmo assim a incredulidade impediu que ela desse o passo necessário à solução do problema. Pelo menos quatro a cinco casos como estes eu assisti estarrecido e fiquei triste. Não podia imaginar que Jesus tinha me conduzido até uma situação como aquela para ver tamanha incredulidade. Após duas semanas pregando em Campo Largo, Matias Olímpio, Esperantina, Nossa Senhora dos remédios e outros lugares que já não me recordo o nome. Após ver milagres tremendos com quem cria. Após ver o maior índice de pobreza de todos os lugares onde andei, após ver somente quinze pessoas aceitarem Jesus como Salvador, após ouvir o provérbio da boca dos pastores da região que dizia: “No maranhão e Pará, um culto cem almas; no Piauí, cem cultos uma alma”. Após ver todas essas coisas, desisti.

- O que você acha irmão? Perguntou o irmão Oliveira.

- Eu acho que quando a pescaria não está boa é melhor mudar o ponto da pesca.

- Então vamos embora. - É que o Pastor quer que fiquemos mais alguns dias, e depois temos o convite de passar pela sede em Teresina.

- Vamos embora para o Tocantins. Não estamos pescando quase nada em almas por aqui. A pescaria está tão fraca que já estou tendo dúvidas se Deus quer que continuemos por aqui.

Chegando ao Tocantins continuamos a pregar nas várias cidades onde marcamos compromisso, porém a maré de azar continuava e em dado momento, desgastado por um trabalho quase infrutífero resolvemos tomar o rumo de casa. Acho que não precisa dizer que não completei os trinta dias de cruzada e pela primeira vez pedi que não marcassem mais compromissos e saí de cena.

Algum tempo depois recebi um telefonema do irmão Oliveira.

- Irmão, dezenas de pessoas estão aceitando a Jesus nos lugares por onde passamos e que aparentemente não aconteceu nada!

- Não brinca, e você sabe quantos?

E vieram os dados pelo telefone.

- Os irmãos estão contando testemunhos nas igrejas e em repercussão novos milagres acontecem e muita gente está aceitando Jesus como Salvador.

- Meu Deus, que vergonha! E pensar que deixamos o Piauí mais cedo e também encurtamos a cruzada do Tocantins por que estávamos decepcionados...

- É, mas quem poderia imaginar que Deus iria fazer a obra depois que deixássemos o lugar?

Realmente não conseguimos entender os propósitos de Deus. Somados as almas que aceitaram Jesus no Piauí e Tocantins, mais os que aceitaram depois de nossa saída, tinha uma conta de aproximadamente cento e setenta a cento e oitenta vidas. Faltava pouco, muito pouco para atingir o índice de vidas que pedimos em oração, e mais uma vez, surpreso, vi a mão de Deus agindo de forma a atender nossas petições, porém de forma diferente. Ele provou mais uma vez que é Deus e faz como quer.

Contudo não estava satisfeito, pra mim o serviço estava incompleto, protestei ao Senhor por que o índice estava próximo do mínimo pedido, no trabalho mais difícil que já tinha feito, e disse ingenuamente:

- Senhor por que não atingimos o mínimo pedido, já que o Senhor movimentou as águas depois que encerramos a cruzada?

- Por que vocês não terminaram o serviço, abandonaram antes da hora!

Fiquei sem palavras, mais uma dura lição para minha vida ministerial. Eu sei que tenho vivido de erros e acertos, porém passar com nota máxima nas provas que Deus estabelece é realmente difícil. Decepcionado por não atingir meus objetivos e por estar presenciando a mais dura realidade de minha vida, realmente me retirei do campo de batalhas mais cedo. Precisava restabelecer minhas forças para continuar lutando em outros lugares, por isso tomei tal decisão, como é que podia imaginar que Jesus estava preparando uma surpresa como aquela!? Fiquei indignado comigo mesmo. Como é que não antevi uma coisa dessas? Como é que não imaginei algo assim? Não gosto de falhar, por isso venho pedindo a Deus uma nova oportunidade de corrigir meu erro, e voltar ao Piauí, mas de momento ficou só a lição, e que lição!

Em qualquer hora, em qualquer lugar, em qualquer situação, precisamos crer, somente crer, porque nosso Deus é poderoso para fazer muito mais do que pedimos ou pensamos, mesmo que nossa vista mostre uma outra realidade. Ele não gosta, ele não aceita, não partilha com a incredulidade. Não é à toa que está escrito: Mas o justo viverá da fé; E, se ele recuar, a minha alma não tem prazer nele. (Hebreus 10: 38).

Tenho nestes vinte e quatro anos de fé cristã cometido erros e acertos como este, ora ganho, ora perco batalhas contra as trevas, mas estou vencendo essa guerra em Cristo e contando com o fato que Deus converteu minha alma, curou-a de todas as mazelas, batizou-me com seu Espírito Santo, permitiu que tivesse um emprego, juntamente com minha esposa, ela também é professora. Deu-me uma família saudável e feliz, uma alegria que transborda em minha vida, em minha alma. Posso me considerar um cristão agradecido, por isso procuro contribuir de todas as maneiras possíveis com sua obra, de maneira que outros possam alcançar tão grande salvação e pela grande graça e grande misericórdia de Deus, tenho obtido sucessos que inspiram a continuar produzindo frutos, contando que o senhor está me limpando para que venha produzir mais fruto. Mas nessa prova não consegui ser cem por cento bem sucedido, ainda que tenha aprendido mais uma dura lição.



[1] Nunca vi coisa semelhante em minha vida, nem ouvi falar de algo assim, mas certas revelações no Piauí, o Senhor ordenava condicionar à aceitação de Cristo como Salvador, para receber a benção da cura e a negativa realmente nos chamou a atenção. Lógico que isto não é um ensino nem uma doutrina são apenas casos específicos acontecidos neste determinado local.

Nenhum comentário:

Postar um comentário